Alors la question de la norme se pose : comment se construit-on sans se laisser emprisonner dans la perception des autres?
extrait de la déclaration de Deza Nguembock lors du Positive Talk de Publicis le 18 mars 2021
Hard times are coming, when we'll be wanting the voice of writers who can see alternatives to how we live now, can see through our fear-stricken society and its obsessive technologies to other ways of being, and even imagine real grounds for hope. We'll need writers who can remember freedom - poets, visionaries - realists of a larger reality.
Ursula K. Le Guin
roubado de _poetic.outlaws_
Os livros
É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?
É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu"entre nós e nós?
Manuel António Pina
When she was home
She was a swan
When she was out she was a tiger
And a tiger in the wild is not tied to anyone
When she was lost
She was a toad
The day I found her on the road
I gave her water and a rose
And as she stretched
The sun rose
Go
Go
Go
Go away
When she was young
She was a cow
And all day long
She milked the stars
She taught me
Women to survive
Must be unfaithful to their child
Of all the wonders of the world
She was a lady with a bird
She must have had so many lives
Was it the first?
Was it the last?
Go
Go
Go
Go away
When she was ill
She was a whale
She was so patient she would wait
Until I sang her by the lane
The sweetest tunes to ease her pain
When she was old
She was an owl
I saw her swaying in the sky
And when she died inside my arms
I realised she was a cat
Go
Go
Go
Go away
Sometimes I wonder
If my child
Will have her eyes
To see through me
And when I die
And I am born again
What will I be?
A stone?
A cat?
A tree?
Go
Go
Go
Go away
Clement Ducol / Camille Dalmais
através do qual nos transformamos na pessoa que nunca devíamos ter deixado de ser.
Ageing is an extraordinary process whereby you become the person you always should have been.
David Bowie
Tears will leave no stain
Time will ease the pain
For every light that fades
Something beautiful remains
Compositores: Graham Hamilton Lyle / Terry Britten
Produtor: Terry Britten
Perto de Ispaão,
há uma ameixeira
que dá dois tipos de frutos:
as ameixas que são doces e
os espaços entre as ameixas
que são silenciosos. São estes
últimos que, ao fim da tarde,
exibem o pôr-do-sol através dos ramos.
Petar Stamboliski, Poesia
Afonso Cruz, Enciclopédia da Estória Universal – Recolha de Alexandria, Alfaguara
As pessoas dizem-nos quem são, mas nós ignoramos, pois queremos que sejam quem queremos que sejam.
Série Mad Men, roubado daqui
Há decisões e acontecimentos que mudam a vida para sempre. Uns procurados, outros impossíveis de evitar. Em determinado momento, ao olharmos para trás, como a ressaca da onda que numa fração de segundo implacável compõe toda uma outra paisagem, sabemos que uma decisão diferente, um acontecimento diferente, e a nossa vida teria sido outra. Hoje não seríamos os mesmos, mesmo desconhecendo em que medida. E há sempre a tentação de julgar que seríamos mais felizes.
Então, para o espírito não treinado, a paleta de sentimentos nos quais se afundar é imensa: frustração, desolação, raiva contra a vida ou o destino, culpabilização, solidão, amargura e tudo o mais. É uma postura de vida que nem todos dão mostras de conseguir decifrar.
Para os espíritos que procuram investigar a natureza da vida e do viver, existe todo um outro conjunto de possibilidades, consideravelmente mais luminosas.
Com a força da fé, E. ingressou nestas últimas fileiras, valendo-se de coragem, discernimento e disciplina para ultrapassar as situações que mais o fizeram sofrer. E, ao olhar para trás, na ressaca da onda, sabe que as paisagens que esta possa criar ou destruir são volúveis ao tempo e que o eterno campo de batalha é o homem frente a si mesmo, na busca de se reinventar face à vida que o interpela, a cada momento. Pronto, portanto, para uma nova etapa.
Parece que existimos para servir um desígnio. E que, paradoxalmente, quanto mais o servimos, mais somos nós.
Te conduzi até a borda
Cê não arredou o pé
Disse: “Voa, passarinho!”
Não moveu um membro sequer
Quando empurrei pro abismo
Voasse alto no céu
No céu, no céu, no céu
Então vai que é hora de voar
E é só no ar que as asa abre
Só quando tu saltar
Vai ver se as penas são de verdade
Da queda livre vem a liberdade
A melhor cura é uma boa loucura
(Ei! Loucura)
A pele velha deixa no chão
Então vai que é hora de voar
Que é só no ar que as asa abre
Francisco, el Hombre
1
o mais belo é o objeto
que não existe
ele não serve para carregar água
nem para preservar as cinzas de um herói
não foi acalentado por Antígona
nem nele um rato se afogou
de orifício, nenhum resquício
pois é completamente aberto
visto
de todos os lados,
quase não é
antevisto
os feixes
de todas as suas linhas
confluem
num jato de luz
nem cegueira
nem
morte
podem roubar o objeto
que não existe
2
marque o lugar
onde ficava o objeto
que não existe
com um quadrado negro
ele será
um mero réquiem
pela bela ausência
vigoroso lamento
aprisionado
num quadrilátero
3
agora
todo o espaço
dilata-se como um oceano
um furacão fustiga
o veleiro negro
a asa de uma nevasca
circunda o quadrado negro
e a ilha submerge
sob a disseminação salina
4
o que se tem agora
é espaço vazio
mais belo que o objeto
mais belo que o lugar que ele deixa
é o antemundo
um paraíso branco
de possibilidades
lá você pode entrar
gritar
vertical-horizontal
relâmpagos perpendiculares
golpeiam o horizonte nu
podemos parar aqui
de todo modo você já criou o mundo
5
oriente-se
pelo olho interior
não se renda
a murmúrios sussurros estalidos
é o mundo não criado
impresso nos portões da paisagem
anjos ofertam
chumaços rosados das nuvens
por toda parte árvores implantam
filamentos verdes desalinhados
reis celebram a púrpura
e comandam trompetistas
auricolores
até a baleia pede um retrato
oriente-se pelo olho interior
nada aceite além
6
extraia
da sombra do objeto
que não existe
do espaço polar
das inflexíveis quimeras do olho interior
uma cadeira
bela e inútil
como uma catedral no deserto
ponha sobre a cadeira
uma toalha de mesa amarrotada
adicione à ideia de ordem
a ideia de aventura
que seja uma confissão de fé
diante do vertical em combate com o horizontal
que seja
mais silenciosa que anjos
mais orgulhosa que reis
mais verdadeira que uma baleia
que tenha a face das últimas coisas
pedimos que desvele, cadeira
as dimensões do olho interior
a íris da necessidade
a pupila da morte
"Estudo do objeto"
Zbigniew Herbert
Tradução: Rogério Bettoni
roubado daqui
Sempre pensei que o grande vício dos intelectuais portugueses (e dos políticos) era a sua tendência para aceitarem como realidade o produto da sua própria imaginação.
Jorge de Sena, roubado daqui
I've never seen any life transformation that didn't begin with the person in question finally getting tired of their own bullshit.
Elizabeth Gilbert
- "Cada mulher tem em si a capacidade de ser quem cuida da casa".
- Sim, porque a casa limpa-se com a vulva.
Roubado a Allan Barbosa, 2022
This task was appointed to you. And if you do not find a way, no one will.
The Lord of the Rings - The Mirror of Galadriel
Here we go again
Here we go again
Up the ball goes
Till gravity intervene
Do the best you can
But nothing's guaranteed
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
Then start again
Cause we're delighted
I can't count with my scissors like fingers
The amount of times I have been here
But I am sure we will get to the bottom of it some day
With all due with respect
To those I've caused so much pain
If I were given a second chance
I'd probably do it all again
Up the ball goes
Till gravity intervene
Do the best you can
But nothing's guaranteed
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
Then start again
Cause we're delighted
We go again
Cause we're delighted
The consequences are yours
The frequencies are yours
The possibilities are yours
Cause the vision is yours
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
We lean, we learn, we earn, we turn, we burn
Then start again
Cause we're delighted
We start again
Cause we're delighted
Benjamin Clementine
As life goes on, however, it becomes tiring to keep up the character you invented for yourself, and so you relapse into individuality and become more like yourself everyday. This is sometimes disconcerting for those around you, but a great relief to the person concerned.
- Agatha Christie, An Autobiography
Un jour viendra le corps tassé
Les parchemins sur nos visages
Ceux qui racontent la vie passée
Tous les succès et les naufrages
Et nos mains qui tremblent au vent
Comme des biguines aux pas légers
Continueront de battre le temps
Sous des Soleils endimanchés
Un jour viendra, on fera vieux os
Des bégonias sur le balcon
Un petit air de calypso
Photos sépias dans le salon
Malgré la vie, le temps passé
Malgré la jeunesse fatiguée
Personne ne pourra empêcher
Nos corps usés de chalouper
Chalouper, chalouper
Avant qu'le printemps s'fasse automne
Que l'on s'éloigne de la rive
On scratchera du gramophone
Quelques ritournelles caraïbes
On s'épuisera sur le dancefloor
En de petits pas économes
Tant que sera levé le store
Nos palpitants seront métronomes
Elles me reviennent, les années folles
Quand on mourrait seulement de rire
Oh, rappelle-toi du malecón
Le clapotis de nos souvenirs
Un jour viendra cette ritournelle
Quand ma voix se sera envolée
Je te supplie en souvenir d'elle
De continuer à chalouper
Chalouper, chalouper
Oh fais-moi tourner sous mes pas
Glissent les années, toi et moi
Jusqu'au bout d'aimer, on pourra
Chalouper, chalouper, chalouper
Fonte: Musixmatch
Compositores: Guillaume Poncelet / Gael Faye / Christiaan Van Der Laan
Letras de Chalouper © Alternative Cultivated Beat Music (acbm)
I have eaten
the plums
that were in
the icebox
and which
you were probably
saving
for breakfast
Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold
William Carlos Williams
À medida que o medo envelhece
O meu corpo acusa o peso do cansaço
E pede-me que liberte a carga que puder
Por isso esvazio os bolsos de segredos
Liberto amor da prisão do peito
Abro mão de orgulho
E levito frágil
Manel Cruz, 2022
roubado daqui
Se posso perdonare, allora devo
riuscire a perdonare anche me stessa
e smetterla di starmi a giudicare
per come sono o come dovrei essere.
Qui non si tratta di consapevolezza
ma è la superbia che mi tiene stretta
in una stolta morsa che mi danna.
Eccomi infatti qui dannata a chiedermi
che cosa fare per essere perfetta.
Tenersi all’apparenza, forse descrivere
soltanto cose in mutua tenerezza.
Patrizia Cavalli, 1947-2022
Vita meravigliosa
"O Mal, todo o Mal, já foi tratado, falta agora tratar o bem, respondeu, lapidar."
O mal
é banal
O mistério
maior
é o mistério
do bem
Adília Lopes
roubado daqui
o recurso mais democrático que conheço - igual para todos, e o que faz a diferença é a forma como o utilizamos, como criamos prioridades, como o gerimos.
Armanda Martins, 2022
O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.
Mario Quintana
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Gilberto Gil