9.12.11
23.11.11
Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. [...] É porque no fundo eu quero amar o que amaria e não o que é.
Clarice Lispector, "Perdoando Deus".
21.11.11
Marlene on the Wall
All this to say, what's it to you?
Observe the blood, the rose tattoo
Of the fingerprints on me from you
Other evidence has shown
That you and I are still alone
We skirt around the danger zone
And don't talk about it later
Marlene watches from the wall
Her mocking smile says it all
As she records the rise and fall
Of every soldier passing
But the only soldier now is me
I'm fighting things I cannot see
I think it's called my destiny
That I am changing
Marlene on the wall
Well, I walk to your house in the afternoon
By the butcher shot with the sawdust strewn
"Don't give away the goods too soon"
Is what she might have told me
And I tried so hard to resist
When you held me in your handsome fist
And reminded me of the night we kissed
And why I should be leaving
Marlene watches from the wall
Her mocking smile says it all
As she records the rise and fall
Of every soldier passing
But the only soldier now is me
I'm fighting things I cannot see
I think it's called my destiny
That I am changing
Suzanne Vega, em Suzanne Vega
4.11.11
Sabe-se lá
Que os alcatruzes da nora
Quando choram
Não andam sempre por cima
Rir da gente ninguém pode
Se o azar nos amofina
E se Deus não nos acode
Não há roda que mais rode
Do que a roda da má sina.
Sabe-se lá
Quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá
Amanhã o que virá
Breve *disfarce
Uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
Pró que nasce uma pessoa.
O preciso é ser-se forte
Ser-se forte e não ter medo
Eis porque às vezes a sorte
Como a morte
Chega sempre tarde ou cedo
Ninguém foge ao seu destino
Nem para o que está guardado
Pois por um condão divino
Há quem nasça pequenino
Pr'a cumprir um grande fado.
14.10.11
7.10.11
Humildade
21.9.11
11.9.11
Vipassana
5.9.11
Segue o teu destino
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
10.8.11
Fui para a casa de banho, a pensar naquela filosofia; “não te desgraces, nem a nós”, como se desgraçar voluntariamente ou por inadvertência, ou por inesperada consequência, os outros fosse decididamente secundário. Tremi, reconhecendo naquilo o pior dos egoísmos, sem dúvida. O egoísmo da inocência, da ignorância, do conformismo, o egoísmo pavoroso dos que se querem, e querem os outros, inocentes, ignorantes, e conformados, cada um fechado sossegadamente na sua paz, e defendendo, pior que com ferocidade, com bondade e até honesta doçura, as fronteiras invioláveis do seu primeiro, segundo ou terceiro andar, mais as pratas e os filhos, contra a invasão de qualquer grito de angústia.
em Sinais de Fogo, Jorge de Sena, 1979.
2.7.11
1.6.11
Talvez tivesse sido o sorriso
em Beloved, Toni Morrison, 1987.
8.4.11
Clarice Lispector, Uma maçã no escuro, 1961.
21.3.11
Dante responde a Beatriz
18.3.11
11.3.11
faudrait voir, faut qu'on y goûte
ouvir
je n'ai pas peur de la route
faudrait voir, faut qu'on y goûte
des méandres au creux des reins
et tout ira bien là
le vent nous portera
ton message à la grande ourse
et la trajectoire de la course
un instantané de velours
même s'il ne sert à rien va
le vent l'emportera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
la caresse et la mitraille
et cette plaie qui nous tiraille
le palais des autres jours
d'hier et demain
le vent les portera
génetique en bandouillère
des chromosomes dans l'atmosphère
des taxis pour les galaxies
et mon tapis volant dis ?
le vent l'emportera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
ce parfum de nos années mortes
ce qui peut frapper à ta porte
infinité de destins
on en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
le vent l'emportera
pendant que la marée monte
et que chacun refait ses comptes
j'emmène au creux de mon ombre
des poussières de toi
le vent les portera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
Noir Désir, Le Vent Nous Portera, em Des visages des figures (2001).
9.3.11
Não sei por que razão o mundo se inquieta
quando estamos sozinhos. Talvez não saiba
que esgotámos os olhos no rigor dos espelhos
e que, por isso, não somos capazes de traçar
um caminho senão para o evitarmos. Na verdade,
se cai a noite, estiolam-se as aventuras entre nós –
o teu silêncio respira longamente, às vezes
paira sobre as dunas do meu corpo a conspirar,
como um tear de nuvens a fiar tempestades
ou um vento salgado a prometer naufrágios;
mas nunca converte o assomo numa história.
Não sei porque se aflige tanto o mundo
se ficamos sozinhos. Talvez ignore
que nós não somos mar de nenhuma praia,
que escolhemos poupar às falésias as cicatrizes
das ondas; e tudo para não aprendermos
o verdadeiro nome das feridas.
Maria do Rosário Pedreira
[in revista Relâmpago, n.º 22, 2008]