29.11.12
Eterno é este instante, o dia claro,
as cores das casas desenhadas em aguada rasa,
castanhos e vermelhos quase em declive,
as janelas limpíssimas, os vidros muito honestos.
este instante que foi e já não é, mal pousei a caneta
no papel: eterno
Sonhei contigo, acordei a pensar
que ainda eras, como é esta janela,
como o corpo obedece a este vento quente, e é ágil,
mas tudo: tão confuso como são os sonhos
Agora, neste instante, recordo a sensação
de estares, o toque.
Não distingo os contornos do meu sonho, não sei
se era uma casa, ou um pedaço de ar.
A memória limpíssima é de ti
e cobriu tudo, e trouxe azul e sol a esta praça
onde me sento, organizada a esquadro,
como as casas
E agora, o teu andar
acabou de passar mesmo ao meu lado, igual,
e agora multiplica-se nas mesas e cadeiras
que cobrem rua e praça,
e eu vejo-te no vidro à minha frente,
mais real que este instante, e se Bruegel te visse
pintava-te, exactíssima e aqui.
E serias: mais perto de um eterno
(Eu, que nada mais sei, só o fulgor do breve,
eu dava-te palavras - )
Ana Amaral Dias, em Vozes, 2011.
24.11.12
Discernimento
Song of Sand
ouvir
If sand waves were sound waves
What song would be in the air now
What stinging tune
Could split this endless noon
And make the sky swell with rain
If war were a game that a man or a child
Could think of winning
What kind of rule
Can overthrow a fool
And leave the land with no stain.
Suzanne Vega, em 99.9 Fº (1992)
19.11.12
hidden in veils, covered in silk
youtube
she's a pornographer's dream, he said.
I knew what he meant.
but it made me imagine: what kind of a dream
he would have, that hadn't been spent?
would he still dream of the thigh? of the flesh upon high?
what he saw so much of?
wouldn't he dream of the thing that he never
could quite get the touch of?
it's out of his hands, over his head
out of his reach, under this real life
hidden in veils, covered in silk
he's dreaming of what might be
out of his hands, over his head
out of his reach, under this real life
hidden in veils,
he's dreaming of mystery.
Bettie Page is still the rage
with her legs and leather;
she turns to tease the camera, and please us at home,
and we let her.
who's to know what she'll show of herself,
in what measure?
if what she reveals, or what she conceals,
is the key to our pleasure?
it's out of our hands, over our heads
out of our reach, under this real life
hidden in veils, covered in silk
we're dreaming of what might be
it's out of our hands, over our heads
out of our reach, under this real life
hidden in veils
we're dreaming of mystery.
she's a pornographer's dream, he said.
I knew what he meant.
but it made me imagine: what kind of a dream
he would have?
Suzanne Vega, Beauty & Crime (2007)
15.11.12
Eu não escolho um campo entre os campos que já existem, e resisto com todas as minhas forças a todas as intimidações com que pretendem forçar-me a estar com este ou aquele campo. És por A ou por B? - eis o torniquete totalitário, a máquina binária, com que os colectivos e as instituições pretendem extorquir uma escolha. Não, o campo que eu escolho sou eu que o construo - entendido?
Eduardo Prado Coelho
9.11.12
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