No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
Eugénio de Andrade,Ofício de Paciência.
Os livros
É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?
É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu"entre nós e nós?
Manuel António Pina
When she was home
She was a swan
When she was out she was a tiger
And a tiger in the wild is not tied to anyone
When she was lost
She was a toad
The day I found her on the road
I gave her water and a rose
And as she stretched
The sun rose
Go
Go
Go
Go away
When she was young
She was a cow
And all day long
She milked the stars
She taught me
Women to survive
Must be unfaithful to their child
Of all the wonders of the world
She was a lady with a bird
She must have had so many lives
Was it the first?
Was it the last?
Go
Go
Go
Go away
When she was ill
She was a whale
She was so patient she would wait
Until I sang her by the lane
The sweetest tunes to ease her pain
When she was old
She was an owl
I saw her swaying in the sky
And when she died inside my arms
I realised she was a cat
Go
Go
Go
Go away
Sometimes I wonder
If my child
Will have her eyes
To see through me
And when I die
And I am born again
What will I be?
A stone?
A cat?
A tree?
Go
Go
Go
Go away
Clement Ducol / Camille Dalmais
através do qual nos transformamos na pessoa que nunca devíamos ter deixado de ser.
Ageing is an extraordinary process whereby you become the person you always should have been.
David Bowie
Tears will leave no stain
Time will ease the pain
For every light that fades
Something beautiful remains
Compositores: Graham Hamilton Lyle / Terry Britten
Produtor: Terry Britten
Perto de Ispaão,
há uma ameixeira
que dá dois tipos de frutos:
as ameixas que são doces e
os espaços entre as ameixas
que são silenciosos. São estes
últimos que, ao fim da tarde,
exibem o pôr-do-sol através dos ramos.
Petar Stamboliski, Poesia
Afonso Cruz, Enciclopédia da Estória Universal – Recolha de Alexandria, Alfaguara
As pessoas dizem-nos quem são, mas nós ignoramos, pois queremos que sejam quem queremos que sejam.
Série Mad Men, roubado daqui
Há decisões e acontecimentos que mudam a vida para sempre. Uns procurados, outros impossíveis de evitar. Em determinado momento, ao olharmos para trás, como a ressaca da onda que numa fração de segundo implacável compõe toda uma outra paisagem, sabemos que uma decisão diferente, um acontecimento diferente, e a nossa vida teria sido outra. Hoje não seríamos os mesmos, mesmo desconhecendo em que medida. E há sempre a tentação de julgar que seríamos mais felizes.
Então, para o espírito não treinado, a paleta de sentimentos nos quais se afundar é imensa: frustração, desolação, raiva contra a vida ou o destino, culpabilização, solidão, amargura e tudo o mais. É uma postura de vida que nem todos dão mostras de conseguir decifrar.
Para os espíritos que procuram investigar a natureza da vida e do viver, existe todo um outro conjunto de possibilidades, consideravelmente mais luminosas.
Com a força da fé, E. ingressou nestas últimas fileiras, valendo-se de coragem, discernimento e disciplina para ultrapassar as situações que mais o fizeram sofrer. E, ao olhar para trás, na ressaca da onda, sabe que as paisagens que esta possa criar ou destruir são volúveis ao tempo e que o eterno campo de batalha é o homem frente a si mesmo, na busca de se reinventar face à vida que o interpela, a cada momento. Pronto, portanto, para uma nova etapa.
Parece que existimos para servir um desígnio. E que, paradoxalmente, quanto mais o servimos, mais somos nós.
Te conduzi até a borda
Cê não arredou o pé
Disse: “Voa, passarinho!”
Não moveu um membro sequer
Quando empurrei pro abismo
Voasse alto no céu
No céu, no céu, no céu
Então vai que é hora de voar
E é só no ar que as asa abre
Só quando tu saltar
Vai ver se as penas são de verdade
Da queda livre vem a liberdade
A melhor cura é uma boa loucura
(Ei! Loucura)
A pele velha deixa no chão
Então vai que é hora de voar
Que é só no ar que as asa abre
Francisco, el Hombre