Se fechares a porta a todos os erros, a verdade ficará na rua.
Rabindranath Tagore
26.12.14
28.11.14
A obra da imaginação
Na crise está a oportunidade, mas é preciso saber operar a mudança sem ela. “Os países europeus tiveram momentos de aventura ou grandeza, mas invariavelmente associados às guerras. Esse é o ritmo da história europeia: guerra, acorda; paz, dorme… Não precisa da guerra para ficar acordado. Aí é que vem a grande tarefa da imaginação. Porque a obra da imaginação é fazer o trabalho da crise sem crise.”
E a tarefa do Estado, já o dissemos, é dar asas a essa imaginação.
Roberto Manabeira Unger, em entrevista para o jornal Público, 2014.
E a tarefa do Estado, já o dissemos, é dar asas a essa imaginação.
Roberto Manabeira Unger, em entrevista para o jornal Público, 2014.
2.10.14
Now we are six (1927)
When I was One,
I had just begun.
I had just begun.
When I was Two,
I was nearly new.
I was nearly new.
When I was Three
I was hardly me.
I was hardly me.
When I was Four,
I was not much more.
I was not much more.
When I was Five,
I was just alive.
I was just alive.
But now I am Six,
I’m as clever as clever,
I’m as clever as clever,
So I think I’ll be six now for ever and ever.
A. A. Milne
11.9.14
(O) Valor das coisas
54. Encheremos o mundo de coisas preciosas, serão tantas que os homens passarão por elas julgando-as banais.
(Fragmento Anónimo, século I depois da Hégira)
em Enciclopédia da História Universal, Afonso Cruz.
8.9.14
1.9.14
Tudo o que atinge o seu limite, transforma-se. Esta é a mecânica. Esta é a dinâmica. O limite de cada um está na sua capacidade de acreditar em si mesmo. Quando acredita, transforma-se naquilo que crê. Se acredita que é tolerante, transforma-se numa pessoa tolerante. Se acredita que é intolerante, torna-se numa pessoa intolerante. E sempre que acredita, cria, porque quando acredita está a ir ao mais profundo de si, ali onde tudo é criação. E se cria, liberta-se. E quando se liberta, ultrapassa o seu limite. Este é o ciclo da vida. Só quem transpõe o seu limite trabalha verdadeiramente o agora. Quem não o faz, vive quase sempre angustiado com a ideia daquilo que poderia ter feito e não fez, e com aquilo que acha que nunca poderá vir a fazer.
José Micard T.
José Micard T.
15.5.14
Sentimento - Conhecimento - Liberdade
(pp. 18-19)
Os sentimentos de dor ou prazer são os alicerces da mente. É fácil não dar conta desta simples realidade porque as imagens dos objetos e dos acontecimentos que nos rodeiam, bem como as imagens das palavras e frases que os descrevem, ocupam toda a nossa modesta atenção, ou quase toda. Mas é assim. Os sentimentos de prazer, ou de dor, ou de toda e qualquer qualidade entre dor e prazer, os sentimentos de toda e qualquer emoção ou dos diversos estados que se relacionam com uma qualquer emoção, são a mais universal das melodias, uma canção que só descansa quando chega o sono, e que se torna num verdadeiro huno quando a alegria nos ocupa ou se desfaz em lúgubre requiem quando a tristeza invade.
Dada a ubiquidade dos sentimentos, seria fácil pensar que a sua ciência estaria já muito elucidada. Mas não está. [...] Tratamos dos nossos sentimentos como pílulas, bebidas, exercícios físicos e espirituais, mas nem o público nem a ciência fazem uma ideia clara do que são os sentimentos do ponto de vista biológico.
(pp. 162-163)
Assim, os sentimentos podem ser os sensores mentais do interior do organismo, as testemunhas do estado da vida. Os sentimentos podem também ser sentinelas, dado que permitem ao nosso si que tome conhecimento do estado da vida no organismo durante um breve intervalo de tempo. Os sentimentos são, em suma, as manifestações mentais do equilíbrio e da harmonia, da desarmonia ou do desacordo. Não se referem necessariamente à harmonia ou ao desacordo dos objectos e das situações exteriores ao organismo, embora seja evidente que também o podem fazer. Referem-se mais imediatamente à harmonia e ao desacordo que acontecem no interior da carne. A alegria e a mágoa, bem como os sentimentos que se relacionam com elas, são primariamente ideias do corpo no processo de obter estados de sobrevida óptimos. A alegria e a mágoa são revelações mentais desse processo de manobra, excepto quando drogas ou depressão corrompem a fidelidade da revelação (embora seja possível defender o argumento de que a doença revelada pela depressão é, ao fim e ao cabo, bem fiel ao estado da vida no organismo deprimido).
É curioso pensar que os sentimentos são testemunhas do nível mais recôndito da vida. E quando tentamos inverter a marcha da engenharia da evolução e descobrir as origens dos sentimentos, é legítimo perguntar se a razão por que os sentimentos prevaleceram como fenómeno importante dos seres vivos complexos é precisamente a sua capacidade de dar testemunho sobre a vida à medida que ocorrem na mente.
António Damásio, Ao Encontro de Espinosa, 2003.
---
Os
sentimentos fazem a transposição do mundo da regulação automática
para o mundo da regulação deliberada. Os sentimentos confundem-se
com o princípio da consciência. Confundem-se, pois, com a
possibilidade, não só de ter uma reacção automática, mas de
saber que se tem essa reacção, e poder a partir daí construir
conhecimentos e sintonizar essa reacção com determinados
objectivos. Portanto, os sentimentos são indispensáveis para se
conseguir criar um espaço de livre-arbítrio, que temos (isso é
qualquer coisa que nos caracteriza humanamente), embora não tenhamos
um enorme espaço de manobra; são indispensáveis para se conseguir
deliberar, para se conseguir concluir "não devo matar".
António Damásio,
em entrevista a André Barata, Público, 2003.
16.4.14
Uma história distante
Levada por fantásticos caminhos
atravessei países vacilantes...
Sophia
Somos uma coisa em nosso corpo
lenta e absoluta que nem conseguimos
no escuro se abre
seu odor, seu aspecto, sua lei
cada um de nós jaz por terra muito depois que se levanta
tudo o que possui não cobre metade do seu reino
e apesar do domicílio fixo, das horas certas
dormimos a céu aberto pelas estradas
J T Mendonça, em Estrada Branca, 2005
lenta e absoluta que nem conseguimos
no escuro se abre
seu odor, seu aspecto, sua lei
cada um de nós jaz por terra muito depois que se levanta
tudo o que possui não cobre metade do seu reino
e apesar do domicílio fixo, das horas certas
dormimos a céu aberto pelas estradas
J T Mendonça, em Estrada Branca, 2005
24.3.14
This will be our reply
to violence: to make music more intensely, more
beautifully, more devotedly than ever before.
Leonard
Bernstein, after the assassination of JFK
23.2.14
A estrada branca
Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto
folhas tremiam
ao invisível peso mais forte
Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate
J T Mendonça,
A Estrada Branca, 2005
A Estrada Branca, 2005
3.2.14
Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com as nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida. Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!
Augusto Boal
à entrada da página da PELE
Augusto Boal
à entrada da página da PELE
30.1.14
27.1.14
You are welcome to Elsinore
Entre
nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário
Cesariny
Pena
Capital
Lisboa,
Assírio & Alvim, 1982
Explicação da Eternidade
devagar,
o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em
tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José
Luís Peixoto
20.1.14
19.1.14
Pedia-lhe, o melhor que soubesse,
uma grande paciência para tudo o que ainda não estiver resolvido no seu coração. Esforce-se por amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas fosse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira. Não
procure, por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque
não saberia ainda pô-las em prática, vivê-las. E trata-se,
precisamente, de viver tudo. De momento, viva apenas as suas
interrogações. Talvez que, simplesmente vivendo-as, acabe um dia
por penetrar insensivelmente nas respostas
Rilke, Cartas a um jovem poeta
14.1.14
Escada sem corrimão
É uma escada em caracol
E que não tem corrimão
Vai a caminho do Sol
Mas nunca passa do chão
Os degraus quanto mais altos
Mais estragados estão
Nem sustos nem sobressaltos
Servem sequer de lição
Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração
Sobe-se numa corrida
Corre-se perigos em vão
Adivinhaste... é a vida
A escada sem corrimão
David Mourão-Ferreira
Cantada por Camané aqui
E que não tem corrimão
Vai a caminho do Sol
Mas nunca passa do chão
Os degraus quanto mais altos
Mais estragados estão
Nem sustos nem sobressaltos
Servem sequer de lição
Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração
Sobe-se numa corrida
Corre-se perigos em vão
Adivinhaste... é a vida
A escada sem corrimão
David Mourão-Ferreira
Cantada por Camané aqui
9.1.14
A tese central assenta na noção de convivialidade, que não é apenas a de um convívio entre parceiros, mas a da coabitação entre diferentes, com todas as tensões e conflitos que tal coabitação pressupõe. Mas a grande questão não é só a da convivialidade, que, a acontecer, é em si um bem. O que fica por resolver é saber em que sociedade se supõe que esta convivialidade seja exequível. Um dos embaraços do pensamento contemporâneo tem sido o de, ao mesmo tempo que se recusa o modelo actual e injusto das sociedades contemporâneas, ser capaz de equacionar outro modelo de sociedade. Parece que estamos «à porta» do enunciado, mas é difícil abri‑la.
Para tanto, é necessário redescobrir com premência um novo valor para a prática do distanciamento sistemático das nossas próprias culturas de origem.
A urgência da teoria, 2007.
Para tanto, é necessário redescobrir com premência um novo valor para a prática do distanciamento sistemático das nossas próprias culturas de origem.
A urgência da teoria, 2007.
Subscrever:
Mensagens (Atom)