Tu sabes o que é uma janela, Maria? Uma janela abre para fora, não é? É o que tu dizias há pouco quando eu te escutei. Mas uma janela também abre para dentro, Maria. Uma janela abre sempre para os dois lados. E de um lado e de outro estão as coisas.
José Augusto França, Azazel, 1956
18.1.20
13.11.19
Health Poem
Health is not bought with a chemist’s pills
Nor saved by the surgeon’s knife
Health is not only the absence of ills
But the fight for the fullness of life.
Piet Hein
29.10.19
15.10.19
Avalanche
Well I stepped into an avalanche,
It covered up my soul;
When I am not this hunchback that you see,
I sleep beneath the golden hill.
You who wish to conquer pain,
You must learn, learn to serve me well.
It covered up my soul;
When I am not this hunchback that you see,
I sleep beneath the golden hill.
You who wish to conquer pain,
You must learn, learn to serve me well.
You strike my side by accident
As you go down for your gold.
The cripple here that you clothe and feed
Is neither starved nor cold;
He does not ask for your company,
Not at the centre, the centre of the world.
As you go down for your gold.
The cripple here that you clothe and feed
Is neither starved nor cold;
He does not ask for your company,
Not at the centre, the centre of the world.
When I am on a pedestal,
You did not raise me there.
Your laws do not compel me
To kneel grotesque and bare.
I myself am the pedestal
For this ugly hump at which you stare.
You did not raise me there.
Your laws do not compel me
To kneel grotesque and bare.
I myself am the pedestal
For this ugly hump at which you stare.
You who wish to conquer pain,
You must learn what makes me kind;
The crumbs of love that you offer me,
They're the crumbs I've left behind.
Your pain is no credential here,
It's just the shadow, shadow of my wound.
You must learn what makes me kind;
The crumbs of love that you offer me,
They're the crumbs I've left behind.
Your pain is no credential here,
It's just the shadow, shadow of my wound.
I have begun to long for you,
I who have no greed
I have begun to ask for you,
I who have no need.
You say you've gone away from me,
But I can feel you when you breathe.
I who have no greed
I have begun to ask for you,
I who have no need.
You say you've gone away from me,
But I can feel you when you breathe.
Do not dress in those rags for me,
I know you are not poor
You don't love me quite so fiercely now
When you know that you are not sure,
It is your turn, beloved,
It is your flesh that I wear.
I know you are not poor
You don't love me quite so fiercely now
When you know that you are not sure,
It is your turn, beloved,
It is your flesh that I wear.
Leonard Cohen
23.8.19
Chega-se mais facilmente a Marte
neste tempo do que ao nosso próprio semelhante.
Saramago, Caderno VI
Saramago, Caderno VI
13.6.19
O importante, disse-o um dia a alguém que me pedia conselho, é ser-se o que se é e tornar-se contagioso. A primeira responsabilidade que nos assiste é saber o que se é: continuo convencido que todos nós nascemos com uma partitura na cabeça. Depois, tantas vezes, ou porque nos faltou mestre de música, ou porque não encontramos piano à mão, vamos-nos entretendo a tocar coisas que não são da nossa partitura. Há então que fazer o esforço, individual ou colectivo, de achar o mestre e o piano que a partitura exige. Conseguido isso, devemos tornar-nos contagiosos.
Agostinho da Silva, Entrevista (com a participação de Joel Serrão, João Lopes Alves, Nuno Nabais, António Braz Teixeira e José Pedro Serra), in DISPERSOS, p. 68.; roubado do Facebook.
7.6.19
16.5.19
Gota de água
Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.
3.5.19
...o mundo não só me assustaria se eu me tornasse o mundo. Se eu fosse o mundo, não teria medo. Se somos o mundo, somos movidos por um radar delicado que nos guia.
Clarice Lispector, citada no texto de apresentação do Fúria, Dias da Dança, 2019, Porto.
31.3.19
Uma aventura
O tipo de conversa em que estou interessado é aquele que iniciamos na disposição de nos tornarmos uma pessoa ligeiramente diferente quando terminamos. É sempre uma experiência cujos resultados não são garantidos. Envolve risco. É uma aventura em que nos dispomos a cozinhar o mundo juntos para o tornar menos amargo.
Elogio da conversa, Theodore Zeldin, 2000.
6.3.19
20.2.19
as they say
ouvir
There was a time when life was in the air
Our innocence like perfume everywhere
We all listen to the autumn leaves
Tell us stories from the summer breeze
There was a time when we were princes in the snow
We went places that people just don't know
We had followed rivers to the seas
Listening to all that summer breeze
But all, all, all
We could all run away
But all, all, all
Only dreamers
as they say
Can you still feel it on your tongue
The taste of life
That'll will always keep us young
We are like the fruits among the trees
Growing with that same old summer breeze
But all, all, all
We could all run away
But all, all, all
Only dreamers
as they say
"Dreamers", Claire Denamur
5.2.19
As palavras
não significam nada se não forem recebidas como
um eco da vontade de quem as ouve
Agustina Bessa-Luís
um eco da vontade de quem as ouve
Agustina Bessa-Luís
4.2.19
...
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade noturna
É preciso encontrá-los. É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz. Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de
lágrimas
...
“A invenção do amor”, Daniel Filipe
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade noturna
É preciso encontrá-los. É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz. Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de
lágrimas
...
“A invenção do amor”, Daniel Filipe
Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal
Nunca mais
A tua face será pura, limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
Sophia
30.1.19
Por Delicadeza
Bailarina fui
Mas nunca dançei
Em frente das grades
Só três passos dei
Tão breve o começo
Tão cedo negado
Dançei no avesso
Do tempo bailado
Dançarina fui
Mas nunca bailei
Deixei-me ficar
Na prisão do rei
Onde o mar aberto
E o tempo lavado?
Perdi-me tão perto
Do jardim buscado
Bailarina fui
Mas nunca bailei
Minha vida toda
Como cega errei
Minha vida atada
Nunca a desatei
Como Rimbaud disse
Também eu direi:
«Juventude ociosa
Por tudo iludida
Por delicadeza
Perdi minha vida»
Sophia, O Nome das Coisas, 1977
19.1.19
uma coisa a menos para adorar
Já vi matar um homem
é terrível a desolação que um corpo deixa
sobre a terra
uma coisa a menos para adorar
quando tudo se apaga
as paisagens descobrem-se perdidas
irreconciliáveis
entendes por isso o meu pânico
nessas noites em que volto sem razão nenhuma
a correr pelo pontão de madeira
onde um homem foi morto
arranco como os atletas ao som de um disparo seco
mas sou apenas alguém que de noite
grita pela casa
há quem diga
a vida é um pau de fósforo
escasso demais
para o milagre do fogo
hoje estive tão triste
que ardi centenas de fósforos
pela tarde fora
enquanto pensava no homem que vi matar
e de quem não soube nunca nada
nem o nome
José Tolentino Mendonça
8.12.18
6.12.18
Árvore rumorosa pedestal da sombra
sinal de intimidade decrescente
que a primavera veste pontualmente
e os olhos do poeta de repente deslumbra
Receptáculo anónimo do espanto
capaz de encher aquele que direito à morte passa
e no ar da manhã inconsequentemente traça
o rasto desprendido do seu canto
Não há inverno rigoroso que te impeça
de rematar esse trabalho que começa
na primeira folha que nos braços te desponta
Explodiste de vida e és serenidade
e imprimes no coração mais fundo da cidade
a marca do princípio a que tudo remonta
Ruy Belo
22.10.18
Like water
Water does not resist. Water flows. When you plunge your hand into it, all you feel is a caress. Water is not a solid wall, it will not stop you. But water always goes where it wants to go, and nothing in the end can stand against it. Water is patient. Dripping water wears away a stone. Remember that, my child. Remember you are half water. If you can't go through an obstacle, go around it. Water does.
Margaret Atwood
5.9.18
2.8.18
Já dizia Napoleão: “para entender um homem há que entender o mundo em que vivia aos vinte anos”.
aqui
19.7.18
30.6.18
Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco
Sophia, Geografia
4.5.18
like flowers
We think a flower on a cliff is beautiful because we stop our feet at the cliff's edge unable to step out into the sky like that fearless flower.
Tite Kubo - Sosuke Aizen, Flower on the Precipice
9.4.18
3.4.18
10.2.18
7.2.18
6.2.18
18.1.18
14.1.18
Mar
somewhere
i have never travelled,gladly beyond
any
experience,your eyes have their silence:
in
your most frail gesture are things which enclose me,
or
which i cannot touch because they are too near
your
slightest look easily will unclose me
though
i have closed myself as fingers,
you
open always petal by petal myself as Spring opens
(touching
skilfully,mysteriously)her first rose
or
if your wish be to close me,i and
my
life will shut very beautifully,suddenly,
as
when the heart of this flower imagines
the
snow carefully everywhere descending;
nothing
which we are to perceive in this world equals
the
power of your intense fragility:whose texture
compels
me with the colour of its countries,
rendering
death and forever with each breathing
(i
do not know what it is about you that closes
and
opens;only something in me understands
the
voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not
even the rain,has such small hands
e.e.cummings
22.12.17
não peças jamais ao rio que aguarde
Nunca é tarde
Quando no cais só fica ancorada
A indiferença e já não resta nada
Senão as ilusões a que te agarras.
Ouve a voz inefável das guitarras
Tingindo de paixão a madrugada
No fim duma viagem povoada
Do canto indecifrável das cigarras.
Saberás então que há sempre um começo
No profano rio em que a vida arde,
E é nessa maré viva que estremeço.
Mas, ainda que saibas que nunca é tarde,
Não tardes, que sem ti eu anoiteço,
E não peças jamais ao rio que aguarde.
António Tomé
20.12.17
14.11.17
25.6.17
7.4.17
Happiness,
we’ve found, is the byproduct of pursuing things that have intrinsic value to us.
A Harvard psychologist explains why forcing positive thinking won’t make you happy, 2016, Washington Post.
A Harvard psychologist explains why forcing positive thinking won’t make you happy, 2016, Washington Post.
6.4.17
26.3.17
18.2.17
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Odes de Ricardo Reis, 1946
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
Odes de Ricardo Reis, 1946
Subscrever:
Mensagens (Atom)