30.8.07
Impressão Digital
Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.
Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!
António Gedeão
28.8.07
Por quanto é sem fim
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quintas, por fontes
Caminhais aliados
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por prados desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos
Caminhais libertos
Caminhais libertos
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim.
Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por prados desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Por rios sem ponte
Caminhais em mim
Fernando Pessoa, in Cancioneiro, 1932
26.7.07
Practice and the Butterfly
The life history of a butterfly is similar to our practice. We have some misconceptions about both, however. We may imagine, for example, that because butterflies are pretty, their life in the cocoon before they emerge is also pretty. We don't realize all that the worm must go through in order to become a butterfly. Similarly, when we begin to practice, we don't realize the long and difficult transformation required of us. We have to see through our pursuit of outward things, the false gods of pleasure and security. We have to stop gobbling this and pursuing that in our shortsighted way, and simply relax into the cocoon, into the darkness of the pain that is our life. Such practice requires years of our lives. Unlike the butterfly, we don't emerge once and for all.
Charlotte Joko Beck
20.7.07
Agora o braço não é mais o braço
Agora o braço é uma linha, um traço,
um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim:
desenhos de luz, agrupamentos de pontos,
de partículas, um quadro de impulsos,
um processamento de sinais.
E assim - dizem - recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne,
escorrem todo o sangue, afinam os ossos
em fios luminosos e aí estou
pelo salão, pelas casas, pelas cidades,
parecida comigo.
Um rascunho,
uma forma nebulosa feita de luz e sombra
como uma estrela. Agora eu sou uma estrela.
Texto publicado na contracapa de "Trem Azul", Elis Regina, 1982.
28.6.07
Nature that framed us of four elements,
Warring within our breasts for regiment,
Doth teach us all to have aspiring minds:
Our souls, whose faculties can comprehend
The wondrous architecture of the world,
And measure every wandering planet's course,
Still climbing after knowledge infinite,
And always moving as the restless spheres,
Will us to wear ourselves, and never rest,
Until we reach the ripest fruit of all,
That perfect bliss and sole felicity,
The sweet fruition of an earthly crown.
Christopher Marlowe
11.6.07
9.6.07
sonhar
Assim, depois de muito esperar, um dia como qualquer outro decidi triunfar
Decidi não ficar à espera das oportunidades e fui procurá-las
Decidi ver cada problema como a oportunidade de encontrar uma solução
Decidi ver cada deserto como a oportunidade de encontrar um oásis
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver
Decidi ver cada dia como a oportunidade de ser Feliz
Aquele dia,
Descobri que o meu único rival eram apenas as minhas debilidades e que estas são a única e melhor forma de me superar
Aquele dia deixei de ter medo de perder e comecei a ter medo de não ganhar
Descobri que não era o melhor e que talvez nunca o tenha sido
Deixou de me importar quem ganhara ou quem perdera
Agora simplesmente me importa ser melhor que ontem
Aprendi que o difícil não é chegar ao topo, mas sim nunca deixar de subir
Aprendi que o maior sucesso que posso alcançar é o ter direito de chamar a alguém de "AMIGO"
Descobri que o amor é mais do que uma simples paixão
O amor é uma filosofia de vida
Aquele dia deixei de ser o reflexo dos meus poucos sucessos alcançados e comecei a ser a minha própria luz do meu presente
Aprendi de que nada serve ser luz se não for para iluminar também o caminho da Humanidade
Naquele dia decidi mudar tanta coisa
Aprendi que os sonhos são apenas para transformar em realidade e desde esse dia que não durmo para descansar. Agora apenas durmo para sonhar
Walt Disney
2.6.07
O SER
Quando falo em amor verdadeiro, falo daquele que faz a pessoa aceitar-se tal e qual ela é, que a faz colocar-se no topo da sua lista de prioridades, que a faz escolher algo que reflicta quem ela realmente é.
Mas não é isso que acontece. As pessoas normalmente vibram pelo medo, fazem escolhas em relação ao que os outros querem ou que as suas religiões mandam. Estão sempre a pensar nos outros e como fariam para viver vidas que não são suas. Focalizam-se fora de si próprios à procura de exemplos para imitar. Imitar não é Ser.
Ser dá muito mais trabalho, porque obedece a uma lógica própria que apenas tem como referência o que tu sentes e intuis que és. Ser é muito mais desconfortável do que corresponder ao que os outros esperam. Ficar à espera que os outros correspondam é muito mais fácil do que compreendê-los e respeitá-los pelas suas escolhas, assim como defenderes as tuas próprias escolhas em consonância com o que és.
Resumindo. Ser é difícil, os outros reclamam, não aceitam que uma pessoa seja (porque fá-los perceber que eles também não são) e criticam. Mas a alegria interior que vivencias de cada vez que consegues escolher por ti, a serenidade de viver com o peito aberto e em constante mutação para te tornares uma pessoa melhor, é mágico e tem a força de mil montanhas. Nunca mais vais depender. Nunca mais vais achar que estás errada e que alguém te vai castigar. Porque no caminho do Ser não há erro. Tudo é evolução.
Alexandra Solnado
21.5.07
17.5.07
A mente é livre, livre mente, a gente é livre, Deus me livredessa rebeldia que fala e não diz nada.
Ouvi dizer que a vida recomeça a cada dia e aprendi essa piada.
Depois talvez esqueça.
O mundo muda, tudo muda, todo mundo muda
Gabriel o Pensador, Masturbação Mental
9.5.07
Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta, uma borboleta a esvoaçar aqui e ali, feliz consigo mesma, fazendo o que lhe agradava. Esqueceu-se completamente de quem era Chuang Tzu. Não mais sabia se ele era o Chuang Tzu que sonhara ser borboleta ou se era a borboleta que sonhara ser Chuang Tzu.
Chuang Tzu (399-295 a.C.)24.4.07
Esta é a segunda coisa,
Nunca lute com as coisas que não existem. A mente é tentada a lutar, mas essa tentação é perigosa: você vai desperdiça a sua energia e a sua vida e desgastar-se a si mesmo. Não se deixe tentar pela mente; veja apenas se uma coisa tem existência real ou se é apenas uma ausência. Se for uma ausência, então não a combata, então procure o que está em falta - e assim vai estar no caminho certo.
Osho
23.4.07
17.4.07
Pudesse eu
não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes,
Pra poder responder aos teus convites,
Suspensos na surpresa dos instantes.
14.4.07
11.4.07
10.4.07
7.4.07
The world and the things in it are not just perceived; they are perceived in relation to one's self-concept.
Individual needs of personal autonomy, self-definition, authentic life or personal perfection are all translated into the need to possess, and consume, market-offered goods. This translation, however, pertains to the appearance of use value of such goods, rather than to the use value itself; as such, it is intrinsically inadequate and ultimately self-defeating, leading to momentary assuagement of desires and lasting frustration of needs. . . . The gap between human needs and individual desires is produced by market domination; this gap is, at the same time, a condition of its reproduction. The market feeds on the unhappiness it generates: the fears, anxieties and the sufferings of personal inadequacy it induces release the consumer behaviour indispensable to its continuation. [7]
4.4.07
E a melhor maneira de destruir o homem é
Se o homem tiver amor não podem haver nações; as nações existem no ódio. Os Indianos odeiam os Paquistaneses, e os Paquistaneses odeiam os Indianos - só assim os dois países podem existir. Se surgir o amor, as fronteiras desaparecerão. Se o amor aparecer, então quem será cristão e quem será judeu? Se o amor aparecer, as religiões desaparecerão.
Se o amor aparecer, quem frequentará o templo?
Para quê?
É por faltar o amor que você procura Deus.
Deus nada mais é do que um substituto para o amor que lhe falta.
E porque você não é ditoso, porque não tem paz, porque não fica em êxtase, procura Deus
- caso contrário, quem se preocuparia?
Se a sua vida for uma dança, Deus já foi alcançado. O coração afectuoso está imbuído de Deus.
Não é preciso procurar, não é preciso orar, não é preciso ir a nenhum templo, a nenhum padre.
Osho, Coragem.
31.3.07
Gente...
x
Que como nós se abre em fina flor
E dá ao mundo a palavra vivida
Nós que sentimos e temos Amor
Como quem ama a própria vida...
Contudo não somos o que dizemos ser
Não sentimos com os olhos a chorar
Choramos a verdade que nos faz crer
Em rios de lágrimas que serão mar...
E nós que somos gente como vós...
Iguais ao que somos quando o olhar
Se queda no eco da própria voz
Para no mundo mais gente deixar
E encantados seguirmos a nossa via
De canto e encanto no mundo ter
Não um rasgo nem estranha melodia
Mas um poema sem fim...
Algo de ti ou de mim...
Tudo o que o Amor faça nascer
[...]
(“GENTE” – um poema colectivo de “Encontros de Entrecampos”, com colaborações de: Ângela Nassim (Lynn), Eliana Mora, Luís Melo, Sónia Regina, Constantino Alves, Miguel Santos, Jorge Vicente, José Félix, Luísa Proença, Joseph Sherman, Alexandra Oliveira, José Gil, Ana Maria Costa, Mónica Correia, Carlos Savasini, Luís Monteiro da Cunha, A. Bittar, Rosangela Aliberti, Fernando Azevedo Corte Real, Xavier Zarco)
28.3.07
27.3.07
26.3.07
Creep where you cannot walk.
Walk where you cannot run.
Run where you cannot fly.
Fly where you cannot bring the whole universe to a standstill within you.
---
Rasteja quando não conseguires andar.
Anda quando não conseguires correr.
Corre quando não conseguires voar.
Voa quando não conseguires aquietar o universo inteiro dentro de ti.
O Livro de Mirdad
24.3.07
23.3.07
Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.
Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.
Eles dizem-me no seu despertar:
"Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."
E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."
Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:
"Quem és tu?"
Khalil Gibran
22.3.07
Há um ponto no teu ser em que o Universo inteiro presta reverência, é o ponto em que o homem se torna um construtor do infinito, aquele que assenta os tijolos de fogo, aquele que constrói o templo. Onde está a força, a lucidez, a superação dos próprios limites? Onde está aquele sonho que já não tens coragem de enfrentar porque era demasiado belo e a realidade externa se encarregou de garantir que era impossível de manifestar?
A potência construtiva, esta paixão de mais além, vem quando eu não aceito as regras do jogo tridimensional, do jogo do medo e do comodismo, quando eu misturo a criança, o sábio, o revolucionário, o científico e o santo, tudo dentro de mim. O que tu precisas é de voltar a sonhar com um planeta purificado.
André Belém, 2001.
20.3.07
16.3.07
The Road Not Taken
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less travelled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost, Mountain Interval, 1920.
14.3.07
em qualquer dos casos estarás certo.
desconhecido, mas sábio :)
13.3.07
8.3.07
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
Sophia
7.3.07
6.3.07
por saberem
Um grupo de baleias permanecia como longos Budas estirados no mar.
A minha irmã e eu encostámos as orelhas ao fundo do barco para ouvirmos as suas canções.
Virámo-nos para o avô e perguntámos:
- O que significam estas canções?
- As baleias não cantam por saberem a resposta – disse – cantam por saberem a canção.
Cinzas e Neve, Gregory Colbert.
13.2.07
e esta hein 2?
Se neste momento houver alguma coisa que queres experimentar na tua vida não a desejes, escolhe-a.
Neale Donald Walsch
És o teu desejo mais profundo.
Como é o teu desejo, assim é a tua intenção.
Como é a tua intenção, assim é a tua vontade.
Como é a tua vontade, assim é a tua acção.
Como é a tua acção, assim é o teu destino.
Brihadaranyaka - Upanishad IV
12.2.07
e esta hein?
A maior tarefa da Pessoa é dar-se à luz, tornar-se no que potencialmente é.
Erich Fromm
5.2.07
2.2.07
Comfort
and you are wide awake,
there's no one left to tell your troubles to.
Just an hour ago
you were listening to their voices,
lilting like a river over underground,
and the light from downstairs
came up soft like daybreak,
dimly as the heartache of a lonely child.
If you can't remember a better time
you can have mine,
little one.
In days to come,
when your heart feels undone,
may you always find an open hand.
Take comfort wherever you can,
you can,
you can.
And oh, it's a strange place.
And oh, everyone with a different face.
But, just like you thought when you stopped here to linger,
we're only as separate as your little fingers.
So, cry. Why not? We all do.
And turn to one you love.
And smile a smile that lights up all the room.
Follow your dreams in through every out door,
it seem that's what we're here for.
And when you can't remember a better time,
you can have mine,
little one.
In days to come,
when your heart feels undone,
may you always find an open hand.
Take comfort
There is comfort.
Take comfort wherever you can,
you can,
you can.
Deb Talan, Comfort
1.2.07
Não percas a oportunidade de
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada os outros enchiam-no de pancada.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia à escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram.
Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo já não subia à escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto.
Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um duche gelado, continuavam a bater naquele que tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
"Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."
Não percas a oportunidade de, de vez em quando, te questionares porque fazes algumas coisas sem pensar...
"É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO"
(Albert Einstein)
30.1.07
E, na verdade, assim é.
Pensa como se cada pensamento teu fosse gravado a fogo no céu à vista de tudo e de todos.
E, na verdade, assim é.
Fala como se o mundo inteiro não fosse mais do que uma orelha à escuta de ouvir o que dizes.
E, na verdade, assim é.
Age como se todas as tuas acções recaissem sobre ti.
E, na verdade, assim é.
Deseja como se fosses o desejo.
E, na verdade, assim é.
Vive como se o próprio Deus necessitasse de ti para viver.
E, na verdade, assim é.
O Livro de Mirdad
29.1.07
27.1.07
bênção irlandesa
Que o caminho venha ao teu encontro.
Que o vento sopre sempre nas tuas costas.
Que o sol te aqueça a face,
que as chuvas caiam suaves sobre os teus campos,
e, até nos vermos…
que deus te segure docemente na palma da mão.
24.1.07
22.1.07
Entra na noite;
não existe nada mais importante do que isso. Espera, fica ali sozinh@, e deixa que a noite aja.
Se tiveres medo, treme.
[...] Segue as indicações do medo. É a direcção delas que precisas de seguir. O medo é simplesmente um desafio. Ele chama-te: “anda!”.
Osho
19.1.07
[as 1001 manifestações do Amor]
E Almitra disse:
Fala-nos do Amor:
- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.
E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.
Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.
Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.
Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.
Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.
Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.
O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.
O amor não possui
nem quer ser possuído.
Porque o amor basta ao amor.
E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.
Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão ser estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.
Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.
Descansar ao meio-dia
e meditar no êxtase do amor.
Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.
Khalil Gibran, O Profeta, 1923.