26.2.10

Landslide


I took my love, I took it down
Climbed a mountain and turned around
And I saw my reflection in the snow-covered hills
'Till the landslide brought me down

Oh, mirror in the sky
What is love?
Can the child within my heart rise above?
Can I sail through the changing ocean tides?
Can I handle the seasons of my life?

Well, I've been afraid of changing
'Cause I've built my life around you
But time makes you bolder
Even children get older
And I'm getting older, too

Take my love, take it down
Climb a mountain and turn around
And If you see my reflection in the snow-covered hills
Well the landslide brought me down

If you see my reflection in the snow-covered hills
Well maybe
The landslide will bring you down

---

Avalanche

Peguei no meu amor e desmontei-o
Subi a uma montanha e voltei-me
Vi o meu reflexo nas encostas cobertas de neve
Até a avalanche me derrubar

Oh, espelho no céu
o que é o amor?
Conseguirá a criança do meu coração comandar?
Conseguirei navegar do oceano as diferentes marés?
Conseguirei lidar com as estações da minha vida?

Sim, tenho tido medo de mudar
Porque construí a minha vida em teu redor
Mas o tempo torna-nos mais corajosos
Até as crianças envelhecem
E também eu estou a envelhecer

Leva o meu amor e desmonta-o
Sobe a uma montanha e volta-te
E se vires o meu reflexo nas encostas cobertas de neve
Foi a avalanche que me derrubou

Se vires o meu reflexo nas encostas cobertas de neve
Então talvez
A avalanche venha a derrubar-te

Stevie Nicks, 1975.

21.2.10

Mistério

THEN said Almitra, Speak to us of Love.

And he raised his head and looked upon the people, and there fell a stillness upon them.

And with a great voice he said:

When love beckons to you, follow him,
Though his ways are hard and steep.

And when his wings enfold you yield to him,
Though the sword hidden among his pinions may wound you.

And when he speaks to you believe in him,
Though his voice may shatter your dreams as the north wind lays waste the garden.

For even as love crowns you so shall he crucify you.
Even as he is for your growth so is he for your pruning.
Even as he ascends to your height and caresses your tenderest branches that quiver in the sun,
So shall he descend to your roots and shake them in their clinging to the earth.

Like sheaves of corn he gathers you unto himself.
He threshes you to make you naked.
He sifts you to free you from your husks.
He grinds you to whiteness.
He kneads you until you are pliant;
And then he assigns you to his sacred fire, that you may become sacred bread for God's sacred feast.

All these things shall love do unto you that you may know the secrets of your heart, and in that knowledge become a fragment of Life's heart.

But if in your fear you would seek only love's peace and love's pleasure,
Then it is better for you that you cover your nakedness and pass out of love's threshing-floor,
Into the seasonless world where you shall laugh, but not all of your laughter, and weep, but not all of your tears.

Love gives naught but itself and takes naught but from itself.
Love possesses not nor would it be possessed;
For love is sufficient unto love.

When you love you should not say, "God is in my heart," but rather, "I am in the heart of God."

And think not you can direct the course of love, for love, if it finds you worthy, directs your course.
Love has no other desire but to fulfil itself.

But if you love and must needs have desires, let these be your desires:
To melt and be like a running brook that sings its melody to the night.
To know the pain of too much tenderness.
To be wounded by your own understanding of love;
And to bleed willingly and joyfully.
To wake at dawn with a winged heart and give thanks for another day of loving;
To rest at the noon hour and meditate love's ecstasy;
To return home at eventide with gratitude;
And then to sleep with a prayer for the beloved in your heart and a song of praise upon your lips.

-excerpt from The Prophet, by Kahlil Gibran


----------------------------------


Então Almitra disse, Fala-nos do Amor

E ele ergue a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos.

E disse, com uma voz forte:

Quando o amor vos chamar, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam agrestes e escarpados.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos,
ainda que a espada escondida na sua plumagem possa ferir-vos.

Enquanto vos falar, acreditai nele;
embora a sua voz possa despedaçar os vossos sonhos
como o vento norte devasta os jardins.

Pois assim como o amor vos engrandece, também vos crucificará.
Assim como é o vosso crescimento é também a vossa poda.
Assim como se alcança a vossa altura e acaricia os vosso ramos mais tenros que se agitam ao sol,
também penetrará até às vossas raízes e sacudirá o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.
E entrega-vos então ao seu fogo sagrado para poderdes ser pão sagrado no festim sagrado de Deus.

Tudo isto vos fará o amor para poderdes conhecer os segredos do vosso coração, e por este conhecimento vos tornardes um fragmento do coração da Vida.

Mas se no vosso medo buscais apenas a paz do amor e o prazer do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis a vossa nudez e abandonásseis a eira do amor,
Para o mundo sem estações onde podereis rir, mas nunca todos os vossos risos, e chorar, mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui nem se deixa possuir,
Porque o amor basta ao amor.

Quando ameis não digais “Deus está no meu coração” mas sim “Estou no coração de Deus.”

E não penseis poder guiar o rumo do amor, pois o amor, se vos vir dignos, determinará ele próprio o vosso rumo.
O amor não tem outro desejo senão consumar-se.

Se, contudo, amardes e tiverdes desejos, sejam estes os vossos desejos:
Fundir-se e ser um regato que corre e canta a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela sua própria compreensão do amor;
E sangrar de bom grado e alegremente.
Acordar de madrugada com o coração alado e dar graças por outro dia de amor;
Descansar ao meio-dia e meditar no êxtase do amor;
Voltar a casa à tardinha com gratidão;
E adormecer tendo no coração uma prece pelo bem-amado e nos lábios um canto de louvor.

Khalil Gibran, O Profeta.

7.1.10

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo,
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo,
espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

19.11.09

a collection of data is not information
a collection of information is not knowledge
a collection of knowledge is not wisdom
a collection of wisdom is not truth

---

uma compilação de dados não é informação
uma compilação de informação não é conhecimento
uma compilação de conhecimentos não é sabedoria
uma compilação de sabedoria não é a verdade

de fonte desconhecida

13.11.09

There are two kinds of strengths

the strength to lead, and the strength to follow
the strength to control and the strength to yield

There are two kinds of power
the power to strip another's soul bare
and the power to stand naked

---

Existem dois tipos de força
força de liderar, e força de seguir
força de controlar e força de deixar ir

Existem dois tipos de poder
O poder de desnudar no outro a alma
e o poder de permanecer, despido

(amor vincit omnia)

Não há pior castigo

do que darmo-nos conta de estarmos a sabotar com os nossos próprios actos aquilo que na realidade queremos ser.

Savater, Ética para um Jovem.

12.7.09

Often rebuked, yet always back returning
To those first feelings that were born with me
And leaving busy chase of wealth and learning
For idle dreams of things which cannot be

Today I will seek not the shadowy region
Its unsustaining vastness waxes drear
And visions rising, legion after legion
Bring the unreal world too strangely near

I'll walk, but not in old heroic traces
And not in paths of "high morality"
And not among the half distinguished faces
The clouded forms of long past history

I'll walk where my own nature would be leading
It vexes me to choose another guide
Where the grey flocks in ferny glens are feeding
Where the wild wind blows on the mountain side

What have those lonely mountains worth revealing?
More glory and more grief then I can tell
The earth that wakes one human heart to feeling
Can centre both the worlds of Heaven and Hell

Emily Brontë

1.7.09

Verdes prados, verdes campos
Onde está minha paixão
As andorinhas não param
Umas voltam outras não.

(excerto de Cantigas de Maio, popular, cantada por Zeca Afonso)

9.6.09

Blowing In The Wind



How many roads must a man walk down,
before you call him a man?
How many seas must a white dove fly,
before she sleeps in the sand?
And how many times must a cannon ball fly,
before they're forever banned?

The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.

How many years can a mountain exist,
before it is washed to the sea?
How many years can some people exist,
before they're allowed to be free?
And how many times can a man turn his head,
and pretend that he just doesn't see?

The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.

How many times must a man look up,
before he sees the sky?
And how many ears must one man have,
before he can hear people cry ?
And how many deaths will it take till we know,
that too many people have died?

The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.

The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.

Bob Dylan
A forma inteligente de manter as pessoas passivas e obedientes é limitar estritamente o espectro da opinião aceitável, mas estimular muito intensamente o debate dentro daquele espectro… Isto dá às pessoas a sensação de que o livre pensamento está pujante, e ao mesmo tempo os pressupostos do sistema são reforçados através desses limites impostos à amplitude do debate.

Noam Chomsky

23.5.09

Saiba



Composição: Arnaldo Antunes
Intérprete: Adriana Partimpim

Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Saddam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu

Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano

Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao-Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Gandhi, Mike Tyson, Salomé

Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você

20.5.09

Tu Gitana



Por Lidia.
Composição: penso que é popular galega.

Tu gitana que adivinhas
me lo digas pues no lo se
si saldré desta aventura o si nela moriré.

O si nela perco la vida
O si nela triunfare
Tu gitana que adivinhas
me lo digas pues no lo se.

18.5.09

Aquela Nuvem


- É tão bom ser nuvem,
ter um corpo leve,
e passar, passar.

- Leva-me contigo.
Quero ver Granada.
Quero ver o mar.

- Granada é longe,
o mar é distante,
não podes voar.

- Para que te serve
ser nuvem, se não
me podes levar?

- Serve para te ver.
E passar, passar.


Eugénio de Andrade, Aquela Nuvem e Outras
, 1986.

16.5.09

A água tem dificuldade em se aguentar na vertical.

Deconheço

27.4.09


Se quiseres ir mais depressa, vai sozinho. Se quiseres ir mais longe, vai em conjunto.

Provérbio africano

23.4.09

Posso resumir em duas palavras o que aprendi sobre a vida
- que termina.

Robert Frost

21.4.09



- Mestre, como faço para me tornar sábio?
- Boas escolhas.

- Mas como fazer boas escolhas?
- Experiência - diz o mestre.

- E como adquirir experiência, mestre?
- Más escolhas.




26.3.09

O Paraíso






Subi a escada de papelão
Imaginada
Invocação
Não leva a nada
Não leva não
É só uma escada de papelão
Há outra entrada no Paraíso
Mais apertada
Mais sim senhor
Foi inventada
Por um anão
E está guardada
Por um dragão
Eu só conheço
Esse caminho
Do Paraíso


Madredeus (Letra e música: Pedro Ayres Magalhães)

19.3.09

There is no human nature; there's human behavior. And that's always been changed around history.

(Não há natureza humana - há comportamento humano, que sempre foi alvo de mudança ao longo da história.)

Em Addendum Z-Day 2

6.3.09

Los Hermanos

ouvir

Composição: Atahualpa Yupanqui

Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
En el valle en la montaña
En la pampa y en el mar
Cada cual con sus trabajos
Con sus sueños cada cual
Con la esperanza delante
Con los recuerdos detrás
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar

Gente de mano caliente
Por eso de la amistad
Con um lloro para llorarlo
Con un rezo para rezar
Con un horizonte abierto
Que siempre esta más allá
Y esa fuerza pa buscarlo
Con tezón y voluntad
Cuando parece más cerca
Es cuando se aleja más
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar

Y asi seguimos andando
Curtidos de soledad
Nos perdemos por el mundo
Nos volvemos a encontrar
Y asi nos reconocemos
Por el lejano mirar
Por las coplas que mordemos
Semillas de imensidad
Y así seguimos andando
Curtidos de soledad
Y en nosotros nuestros muertos
Pa que nadie quede atrás
Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
Y una hermana muy hermosa
Que se llama libertad

"Los Hermanos", Elis Regina, dó álbum Falso Brilhante (1976).

14.2.09

Será? III


[...]

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro, em O Guardador de Rebanhos

11.2.09

Fantasminha Feliz :)

Happy phantom


And if I die today I'll be the happy phantom
And I'll go chassin' the nuns out in the yard
And I'll run naked through the streets without my mask on
And I will never need umbrellas in the rain
I'll wake up in strawberry fields every day
And the atrocities of school I can forgive
The happy phantom has no right to bitch
oo who
The time is getting closer
oo who
Time to be a ghost
oo who
Every day we're getting closer
The sun is geting dim
Will we pay for who we been

So if I die today I'll be the happy phantom
And I'll go wearin' my naughties like a jewel
They'll be my ticket to the universal opera
There's Judy Garland taking Budda by the hand
And then these seven little men get up to dance
They say Confucius does his crossword with a pen
I'm still the angel to a girl who hates to sin

oo who
The time is getting closer
oo who
Time to be a ghost
oo who
Every day we're getting closer
The sun is geting dim
Will we pay for who we been

Or will I see you dear and wish I could come back
You found a girl that you could truly love again
WIll you still call for me when she falls asleep
Or do we soond forget the things we cannot see

oo who
The time is getting closer
oo who
Time to be a ghost
oo who
Every day we're getting closer
The sun is geting dim
Will we pay for who we been

Tori Amos, do álbum Little Earthquakes (1992).

8.2.09

Here It Is

ouvir

Here is your crown
And your seal and rings;
And here is your love
For all things.

Here is your cart,
And your cardboard and piss;
And here is your love
For all of this.

May everyone live,
And may everyone die.
Hello, my love,
And my love, Goodbye.

Here is your wine,
And your drunken fall;
And here is your love.
Your love for it all.

Here is your sickness.
Your bed and your pan;
And here is your love
For the woman, the man.

May everyone live,
And may everyone die.
Hello, my love,
And, my love, Goodbye.

And here is the night,
The night has begun;
And here is your death
In the heart of your son.

And here is the dawn,
(Until death do us part);
And here is your death,
In your daughter’s heart.

May everyone live,
And may everyone die.
Hello, my love,
And, my love, Goodbye.

And here you are hurried,
And here you are gone;
And here is the love,
That it’s all built upon.

Here is your cross,
Your nails and your hill;
And here is your love,
That lists where it will

May everyone live,
And may everyone die.
Hello, my love,
And my love, Goodbye.

Leonard Cohen, do album Ten New Songs.

26.1.09

Construção

youtube

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Composição: Chico Buarque

22.1.09

De morte natural nunca ninguém morreu
[...]

Jorge de Sena

21.1.09

Vilarejo

youtube

Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão

Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraiso se mudou para lá

Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonho semeando o mundo real

Toda gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção

Tem um verdadeiro amor
Para quando você for

Composição: Marisa Monte, Pedro Baby, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes

18.1.09

Carrossel do destino


Deixo os versos que escrevi,
As cantigas que cantei,
Cinco ou seis coisas que eu sei
E um milhão que eu esqueci.
Deixo este mundo daqui,
Selva com lei de cassino;
Vou renascer num menino,
Num país além do mar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino.

Enquanto eu puder viver
Tudo o que o coração sente,
O tempo estará presente
Passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
Para as nuvens do divino,
Que a viola seja o sino
Tocando pra me guiar...
Licença,que eu vou rodar
No carrossel do destino.

Romances e epopéias
Me pedindo pra brotar
E eu tangendo devagar
A boiada das idéias.
Sempre em busca das colméias
Onde brota o mel mais fino,
E um só verso, pequenino,
Mas que mereça ficar...
Licença,que eu vou rodar
No carrossel do destino.

Composição: António Nóbrega

29.12.08

No deserto

xx
Metade de mim cavalo de mim mesma eu te domino
Eu te debelo com espora e rédea

Para que não te percas nas cidades mortas
Para que não te percas
Nem nos comércios de Babilónia
Nem nos ritos sangrentos de Nínive

Eu aponto o teu nariz para o deserto limpo
Para o perfume limpo do deserto
Para a sua solidão de extremo a extremo

Por isso te debelo te combato te domino
E o freio te corta a espora te fere a rédea te retém

Para poder soltar-te livre no deserto
Onde não somos nós dois mas só um mesmo
No deserto limpo com seu perfume de astros
Na grande claridade limpa do deserto
No espaço interior de cada poema
Luz e fogo perdidos mas tão perto
Onde não somos nós dois mas só um mesmo

Sophia, Dual

11.12.08

HAMLET: Do you see nothing there?

THE QUEEN: Nothing at all; yet all that is I see.


Shakespeare: Hamlet, act 3, scene 4

4.11.08

[...]

Sabes, amar é uma vitória,
e a vida é simples de contar
[...]

Carlos Paião, História de Amor

[...]

Sabes, amar é uma vitória,
e a vida é simples de contar
[...]

Carlos Paião, História de Amor

1.10.08

Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.

José Saramago, “Livros dos...” em Ensaio Sobre a Cegueira

29.9.08

Tatuagens

youtube

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pintura de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão


Mafalda Veiga

22.9.08

Tradição

é a passagem do fogo, não a veneração das cinzas.

Gustav Mahler

em http://www.rodobalho.com/

28.8.08

Interpretation is the revenge of the intellect upon art.
Susan Sontag, 1964.

27.8.08

Tell me a story, Pew.
What kind of story, child?

A story with a happy ending.
There's no such thing in all the world.
As a happy ending?
As an ending.

in Lighthousekeeping

6.8.08

Isto de estar vivo um dia ainda acaba mal.

Manuel da Fonseca

Throw it away


I think about the life I live
A figure made of clay
And I think about the things I lost
The things I gave away

When I'm in a certain mood
I search the halls and, look,
One night I found these magic words
In a magic book

Throw it away, throw it away
Give your love, live your life
Each and every day

And keep your hand wide open
Let the sun shine through
Cause you can never lose a thing
If it belongs to you

There's a hand that rocks the cradle
And a hand to help us stand
With a gentle kind of motion
As it moves across the land

And hands unclenched and opened
Gifts of life and love it brings
So keep your hand wide open
If you're needing anything

Throw it away
Throw it away
Give your love, live your life
Each and every day

And keep your hand wide open
Let the sun shine through
Cause you can never lose a thing
If it belongs to you

There's a natural obligation
To what we own and claim
Possessing and belonging to
Acknowledging a name

So keep your hand wide open
If you're needing love today
Cause you can't lose it even if
You throw it all away

You can throw it away
You can throw it away
Give your life, live your love
Each and every day

And keep your hand wide open
Let the sun come through
Cause you can never lose a thing
If it belongs to you

Abbey Lincoln

19.3.08

A liberdade exprime-se no esforço do espírito para se libertar das formas que já cumpriram o seu papel.

Kandinski, Gramática da Criação

20.1.08

A condição humana atinge-se quando o Homem está disposto a morrer por aquilo em que acredita.

desconheço

8.1.08

If blood will flow when flesh and steel are one

Drying in the colour of the evening sun

Tomorrow's rain will wash the stains away

But something in our minds will always stay

Perhaps this final act was meant

To clinch a lifetime's argument

That nothing comes from violence

and nothing ever could

For all those born beneath an angry star

Lest we forget how fragile we are


Fragile - Sting, Fields of Gold

5.1.08

Persons attempting to find a motive in this narrative will be prosecuted;

persons attempting to find a moral in it will be banished;

persons attempting to find a plot in it will be shot.


Mark Twain

2.1.08

Coragem

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Pessoa

19.12.07

Fui ter à mesa redonda beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão

Povo que lavas no Rio, letra de Pedro Homem de Melo

18.12.07

Habitat

Ser porteira da minha
própria entrada:
Eis o único momento
de posse possível.

Marta Bernardes, in Arquivo de Nuvens

8.11.07

Para que serve então a Utopia?

Ela (a utopia) está no horizonte.
Avanço dois passos e ela afasta-se dois passos.
Avanço dez passos e o horizonte distancia-se de mim dez passos.
Posso ir tão longe quanto quiser:
Nunca lá chegarei.
Para que serve então a utopia?
Para isso mesmo... para avançarmos.

Eduardo Galeano

7.11.07

The Voiceless

We count the broken lyres that rest
Where the sweet wailing singers slumber,
But o'er their silent sister's breast
The wild-flowers who will stoop to number?
A few can touch the magic string,
And noisy Fame is proud to win them:
Alas for those that never sing,
But die with all their music in them!

Nay, grieve not for the dead alone
Whose song has told their hearts' sad story,--
Weep for the voiceless, who have known
The cross without the crown of glory!
Not where Leucadian breezes sweep
O'er Sappho's memory-haunted billow,
But where the glistening night-dews weep
On nameless sorrow's churchyard pillow.

O hearts that break and give no sign
Save whitening lip and fading tresses,
Till Death pours out his longed-for wine
Slow-dropped from Misery's crushing presses,--
If singing breath or echoing chord
To every hidden pang were given,
What endless melodies were poured,
As sad as earth, as sweet as heaven!

Oliver Wendell Holmes, 1858