I
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo
II
Escuta, Lídia, como os dias correm
Fingidamente imóveis
E à sombra de folhagens e palavras
Os deuses transparecem
Como para beber o sangue oculto
Que nos deixou atentos
III
Ausentes são os deuses mas presidem.
Nós habitamos
Nessa transparência ambígua,
Seu pensamento emerge quando tudo
De súbito se torna
Solenemente exacto.
O seu olhar ensina o nosso olhar:
Nossa atenção ao mundo
É o culto que pedem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, 1972.
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo
II
Escuta, Lídia, como os dias correm
Fingidamente imóveis
E à sombra de folhagens e palavras
Os deuses transparecem
Como para beber o sangue oculto
Que nos deixou atentos
III
Ausentes são os deuses mas presidem.
Nós habitamos
Nessa transparência ambígua,
Seu pensamento emerge quando tudo
De súbito se torna
Solenemente exacto.
O seu olhar ensina o nosso olhar:
Nossa atenção ao mundo
É o culto que pedem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, 1972.
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