12.10.06

De todos os hábitos a que nos entregamos,

um reina sobre todos os outros no que se refere a malefícios quanto ao mundo futuro. É o hábito de ter chefes. O medo das responsabilidades, o gosto de se encostar aos outros, o jeito mais fácil de não ter que decidir os caminhos, fizeram com que a cada instante lancemos os olhos à nossa volta em busca do sinal que nos sirva de guia.
Quando surge uma dificuldade de carácter colectivo, a primeira ideia é a de que devia surgir um homem que tomasse sobre os seus ombros o áspero martírio de ser chefe. Pois bem: pode ser que isso tenha trazido grandes benefícios noutras crises da História; nem vale por outro lado a pena perguntar o que teria sido da dia História se outras se tivessem apresentado as circunstâncias.
Mas, na presente, a verdadeira salvação só virá no dia em que cada homem se convencer que tem que ser ele o seu chefe. Ou, dentro dele, Deus.

Agostinho da Silva, Só Ajustamentos, 1962.

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