15.1.07

Quando abalares, de ida para Ítaca,

Faz votos por que seja longa a viagem,

Cheia de aventuras, cheia de experiências.

E quanto aos Lestrigões, quanto aos Ciclopes

O irado Poséidon, não os temas,

Disso não verás nunca no teu caminho,

Se o teu pensar guardares alto, e uma nobre

Emoção tocar tua mente e corpo.

E nem os Lestrigões, nem os Ciclopes,

Nem o fero Poséidon hás-de ver,

Se dentro d’alma não os transportares,

Se não tos puser a alma à tua frente.


Faz votos por que seja longa a viagem.

As manhãs de verão que sejam muitas

Em que o prazer te invada e a alegria

Ao entrares em portos nunca vistos;

Hás-de parar nas lojas dos fenícios

Para mercar os mais belos artigos:

Ébano, corais, âmbar, madrepérolas,

E sensuais perfumes de todas as sortes,

E quanto houver de aromas deleitosos;

Vai a muitas cidades do Egipto

Aprender e aprender com os doutores.


Ítaca guarda sempre em tua mente.

Hás-de lá chegar, é o teu destino.

Mas a viagem, não a apresses nunca.

Melhor será que muitos anos dure

E que já velho aportes à tua ilha

Rico do que ganhaste no caminho

Não esperando de Ítaca riquezas.


Ítaca te deu essa bela viagem.

Sem ela não te punhas a caminho.

Não tem, porém, mais nada que te dar.


E se a fores achar pobre, não te enganou.

Tão sábio te tornaste, tão experiente,

Que percebes enfim que significam Ítacas.


Konstatinos Kavafis

tradução de Manuel Resende

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