[...] I have seen more than I remember; and I remember more than I have seen.
Benjamin Disraeli
ouvir
je n'ai pas peur de la route
faudrait voir, faut qu'on y goûte
des méandres au creux des reins
et tout ira bien là
le vent nous portera
ton message à la grande ourse
et la trajectoire de la course
un instantané de velours
même s'il ne sert à rien va
le vent l'emportera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
la caresse et la mitraille
et cette plaie qui nous tiraille
le palais des autres jours
d'hier et demain
le vent les portera
génetique en bandouillère
des chromosomes dans l'atmosphère
des taxis pour les galaxies
et mon tapis volant dis ?
le vent l'emportera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
ce parfum de nos années mortes
ce qui peut frapper à ta porte
infinité de destins
on en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
le vent l'emportera
pendant que la marée monte
et que chacun refait ses comptes
j'emmène au creux de mon ombre
des poussières de toi
le vent les portera
tout disparaîtra mais
le vent nous portera
Noir Désir, Le Vent Nous Portera, em Des visages des figures (2001).
Não sei por que razão o mundo se inquieta
quando estamos sozinhos. Talvez não saiba
que esgotámos os olhos no rigor dos espelhos
e que, por isso, não somos capazes de traçar
um caminho senão para o evitarmos. Na verdade,
se cai a noite, estiolam-se as aventuras entre nós –
o teu silêncio respira longamente, às vezes
paira sobre as dunas do meu corpo a conspirar,
como um tear de nuvens a fiar tempestades
ou um vento salgado a prometer naufrágios;
mas nunca converte o assomo numa história.
Não sei porque se aflige tanto o mundo
se ficamos sozinhos. Talvez ignore
que nós não somos mar de nenhuma praia,
que escolhemos poupar às falésias as cicatrizes
das ondas; e tudo para não aprendermos
o verdadeiro nome das feridas.
Maria do Rosário Pedreira
[in revista Relâmpago, n.º 22, 2008]
Eu sei onde fica o paraíso, por Roya
Eu sei onde fica o paraíso. Vem-me sempre à memória quando penso na minha infância.
E também sei a morada do Inferno. É onde eu vivo agora.
Eu era uma menininha engraçada, gorducha. Vestia vestidos curtos e calçava sapatos bonitos. Tinha um chapéu-de-chuva colorido decorado com bonecos; era muito engraçado – como também eu era. No Inverno, adorava ir brincar para neve e fazer bolas de neve. Punha um gorro e um cachecol, vestia umas calças quentinhas e um casaco muito quentinho. Parecia um leão, mas o meu pai chamava-me Tigre.
Quando era criança, gostava muito de coisa engraçadas. Por exemplo, gostava de andar sempre a comer. Levava à boca tudo o que apanhava à mão – fosse comestível, ou não fosse. A minha Mãe cozinhava muito bem. As suas sopas eram fantásticas – com um aroma espectacular. A minha Mãe tinha umas mãos suaves e delicadas; sabiam às especiarias que ela usava. Também gostava das tampas das canetas – mas não sei por que não gostava das canetas!
Gostava de usar o baton da minha Mãe. Sempre que a apanhava distraída, pegava no baton e pintava a minha cara toda. Um dia, estava a pintar o meu pescoço e o baton partiu-se. Escondi-o rapidamente debaixo da mesa, mas nesse preciso instante, a minha Mãe apareceu e ralhou comigo. Eu estava a pensar como era fantástica estar a comportar-me como uma adulta; então olhei para o céu e pedi a Deus que me levasse rapidamente para a idade adulta, para poder usar batons sempre que me apetecesse. Também pedi para ter um baton que fosse só meu. Agora, eu tenho muitos batons – mas quase não os uso.
Quando eu era pequenina, apaixonei-me por cabelos compridos. Sonhava deixar crescer o meu cabelo para a lua e sonhava que a lua — porque seria como os meus longos cabelos dourados — se tornasse minha amiga. Ponha fios pretos compridos na minha cabeça e abanava-a, fingindo que eram os meus cabelos. O meu cabelo era castanho, os fios eram pretos, mas não fazia mal. Eu decidi que, quando crescesse, ambas as cores iriam mudar.
Também gostava de usar sapatos altos. Ó, meu Deus, como eu gostava de me ver a andar de sapatos altos. Tac, tac, tac — esta era a voz dos meus sapatos que me transportavam para um mundo de sonho que se tornava realidade por um instante. Eu usei sapatos belíssimos durante algum tempo, mas agora o tac, tac, tac foi silenciado e eu só uso sapatos confortáveis.
Tinha três bonecas: Nazo, Farida e Fátima. Todos os dias, fazia-lhes festas de casamento – tiveram mais de mil maridos! Não sonhava com nenhum marido para mim, mas dava-lhes longos conselhos sobre a vida e os relacionamentos.
Eu partilhava tudo com elas. Queria que as minhas bonecas fossem felizes e elas mantinham-se sempre caladas. Decidi que elas não me podiam contar os seus sonhos porque eram horas de elas irem para cama.
Lembro-me da voz da minha Mãe. O almoço está pronto, filhota. Lava as mãos e vem comer!” Detestava ter de fazer aquela pequena paragem para ir lavar as mãos antes de poder atacar a comida maravilhosa da minha Mãe. Gostava muito da canção do meu gato. Todas as manhãs. Ele cantava Miau, miau.
Gostava de matar moscas ou aprisioná-las! A prisão era feita de papel e Madeira muito fininha e tinha uma porta. Eu era a guarda e era cruel. O meu gato era o meu chefe. Eu dizia-lhe que crimes as moscas tinham feito e pendurava-as na parede.
A vida era doce tal como os chocolates. Mas quando me tornei adulta a vida mudou. A liberdade foi-se. Quando eu me ria, as pessoas diziam que eu era maluca. Quando eu chorava, diziam que eu era uma criança. Quando eu dizia a verdade, gritavam que era mentira. Quando eu dizia que algo estava certo, eles diziam que estava errado. Quando eu amava, diziam que era pecado. É por isso que, para mim, a vida é um Inferno.
Tenho saudades da minha infância. Eu tocava nas estrelas nos meus sonhos. Mas será que eu pensava que as moscas eram criminosas só porque eram moscas?
Retirado de http://www.aaaio.pt/public/ioand735.htm
Afghan Women's Writing Project http://www.awwproject.org./
Viva a Maria da Fonte
Com as pistolas na mão
Para matar os cabrais
Que são falsos à nação
É avante Portugueses
É avante sem temer
Pela santa Liberdade
Triunfar ou perecer
Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com as pistolas à cinta
A tocar a reunir
Já raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho que primeiro
O seu grito fez soar
Cantada por Vitorino aqui.
THEN said Almitra, Speak to us of Love.
And he raised his head and looked upon the people, and there fell a stillness upon them.
And with a great voice he said:
When love beckons to you, follow him,
Though his ways are hard and steep.
And when his wings enfold you yield to him,
Though the sword hidden among his pinions may wound you.
And when he speaks to you believe in him,
Though his voice may shatter your dreams as the north wind lays waste the garden.
For even as love crowns you so shall he crucify you.
Even as he is for your growth so is he for your pruning.
Even as he ascends to your height and caresses your tenderest branches that quiver in the sun,
So shall he descend to your roots and shake them in their clinging to the earth.
Like sheaves of corn he gathers you unto himself.
He threshes you to make you naked.
He sifts you to free you from your husks.
He grinds you to whiteness.
He kneads you until you are pliant;
And then he assigns you to his sacred fire, that you may become sacred bread for God's sacred feast.
All these things shall love do unto you that you may know the secrets of your heart, and in that knowledge become a fragment of Life's heart.
But if in your fear you would seek only love's peace and love's pleasure,
Then it is better for you that you cover your nakedness and pass out of love's threshing-floor,
Into the seasonless world where you shall laugh, but not all of your laughter, and weep, but not all of your tears.
Love gives naught but itself and takes naught but from itself.
Love possesses not nor would it be possessed;
For love is sufficient unto love.
When you love you should not say, "God is in my heart," but rather, "I am in the heart of God."
And think not you can direct the course of love, for love, if it finds you worthy, directs your course.
Love has no other desire but to fulfil itself.
But if you love and must needs have desires, let these be your desires:
To melt and be like a running brook that sings its melody to the night.
To know the pain of too much tenderness.
To be wounded by your own understanding of love;
And to bleed willingly and joyfully.
To wake at dawn with a winged heart and give thanks for another day of loving;
To rest at the noon hour and meditate love's ecstasy;
To return home at eventide with gratitude;
And then to sleep with a prayer for the beloved in your heart and a song of praise upon your lips.
-excerpt from The Prophet, by Kahlil Gibran
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Então Almitra disse, Fala-nos do Amor
E ele ergue a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos.
E disse, com uma voz forte:
Quando o amor vos chamar, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam agrestes e escarpados.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos,
ainda que a espada escondida na sua plumagem possa ferir-vos.
Enquanto vos falar, acreditai nele;
embora a sua voz possa despedaçar os vossos sonhos
como o vento norte devasta os jardins.
Pois assim como o amor vos engrandece, também vos crucificará.
Assim como é o vosso crescimento é também a vossa poda.
Assim como se alcança a vossa altura e acaricia os vosso ramos mais tenros que se agitam ao sol,
também penetrará até às vossas raízes e sacudirá o seu apego à terra.
Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.
E entrega-vos então ao seu fogo sagrado para poderdes ser pão sagrado no festim sagrado de Deus.
Tudo isto vos fará o amor para poderdes conhecer os segredos do vosso coração, e por este conhecimento vos tornardes um fragmento do coração da Vida.
Mas se no vosso medo buscais apenas a paz do amor e o prazer do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis a vossa nudez e abandonásseis a eira do amor,
Para o mundo sem estações onde podereis rir, mas nunca todos os vossos risos, e chorar, mas nunca todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui nem se deixa possuir,
Porque o amor basta ao amor.
Quando ameis não digais “Deus está no meu coração” mas sim “Estou no coração de Deus.”
E não penseis poder guiar o rumo do amor, pois o amor, se vos vir dignos, determinará ele próprio o vosso rumo.
O amor não tem outro desejo senão consumar-se.
Se, contudo, amardes e tiverdes desejos, sejam estes os vossos desejos:
Fundir-se e ser um regato que corre e canta a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela sua própria compreensão do amor;
E sangrar de bom grado e alegremente.
Acordar de madrugada com o coração alado e dar graças por outro dia de amor;
Descansar ao meio-dia e meditar no êxtase do amor;
Voltar a casa à tardinha com gratidão;
E adormecer tendo no coração uma prece pelo bem-amado e nos lábios um canto de louvor.
Khalil Gibran, O Profeta.
How many roads must a man walk down,
before you call him a man?
How many seas must a white dove fly,
before she sleeps in the sand?
And how many times must a cannon ball fly,
before they're forever banned?
The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.
How many years can a mountain exist,
before it is washed to the sea?
How many years can some people exist,
before they're allowed to be free?
And how many times can a man turn his head,
and pretend that he just doesn't see?
The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.
How many times must a man look up,
before he sees the sky?
And how many ears must one man have,
before he can hear people cry ?
And how many deaths will it take till we know,
that too many people have died?
The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.
The answer my friend is blowing in the wind,
the answer is blowing in the wind.
Bob Dylan
Composição: Atahualpa Yupanqui
Yo tengo tantos hermanos