26.6.06

uma forma deturpada de orgulho

Ainda que muitas vezes abusem dela, e com maldade, a grande beleza da doutrina cristã talvez seja a sua abordagem à compreensão do pecado. É uma abordagem com duas faces.
Por um lado, insiste na nossa natureza humana pecaminosa. Portanto, qualquer cristão genuíno se considerará um pecador. O facto de tantos supostos e manifestamente devotos "cristãos" não se considerarem, no fundo, pecadores, não deve ser tomado como uma falha da doutrina, mas apenas uma falha do indivíduo na sua tentativa de estar à altura desta. Mais será dito sobre a maldade com disfarce cristão.
Por outro lado, a doutrina cristã insiste também em como somos todos perdoados pelos nossos pecados, pelo menos quando sentimos arrependimento por eles. Compreendendo a extensão do nosso carácter pecaminoso, sentir-nos-íamos provavelmente assolados pelo desespero, se não acreditássemos simultaneamente na natureza misericordiosa e piedosa do Deus cristão. Assim a Igreja quando sã, afirma que remoer interminavelmente todos os pecados que se cometeram, por menores que sejam (um processo denominado "escrúpulo excessivo") é, em si, um pecado.
Já que Deus nos perdoa, não nos perdoarmos é considerarmo-nos maiores que Deus, cedendo assim ao pecado de uma forma deturpada de orgulho.

in Gente da Mentira, M. Scott Peck, 1985.

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