6.9.22

Chalouper

ouvir


Un jour viendra le corps tassé

Les parchemins sur nos visages

Ceux qui racontent la vie passée

Tous les succès et les naufrages

Et nos mains qui tremblent au vent

Comme des biguines aux pas légers

Continueront de battre le temps

Sous des Soleils endimanchés

Un jour viendra, on fera vieux os

Des bégonias sur le balcon

Un petit air de calypso

Photos sépias dans le salon

Malgré la vie, le temps passé

Malgré la jeunesse fatiguée

Personne ne pourra empêcher

Nos corps usés de chalouper

Chalouper, chalouper


Avant qu'le printemps s'fasse automne

Que l'on s'éloigne de la rive

On scratchera du gramophone

Quelques ritournelles caraïbes

On s'épuisera sur le dancefloor

En de petits pas économes

Tant que sera levé le store

Nos palpitants seront métronomes

Elles me reviennent, les années folles

Quand on mourrait seulement de rire

Oh, rappelle-toi du malecón

Le clapotis de nos souvenirs

Un jour viendra cette ritournelle

Quand ma voix se sera envolée

Je te supplie en souvenir d'elle

De continuer à chalouper

Chalouper, chalouper


Oh fais-moi tourner sous mes pas

Glissent les années, toi et moi

Jusqu'au bout d'aimer, on pourra

Chalouper, chalouper, chalouper


Fonte: Musixmatch

Compositores: Guillaume Poncelet / Gael Faye / Christiaan Van Der Laan

Letras de Chalouper © Alternative Cultivated Beat Music (acbm)

17.8.22

This Is Just To Say

 

I have eaten

the plums

that were in

the icebox


and which

you were probably

saving

for breakfast


Forgive me

they were delicious

so sweet

and so cold


William Carlos Williams

 

À medida que o medo envelhece

O meu corpo acusa o peso do cansaço

E pede-me que liberte a carga que puder

Por isso esvazio os bolsos de segredos

Liberto amor da prisão do peito

Abro mão de orgulho

E levito frágil


Manel Cruz, 2022

roubado daqui

22.6.22


Se posso perdonare, allora devo

riuscire a perdonare anche me stessa

e smetterla di starmi a giudicare

per come sono o come dovrei essere.

Qui non si tratta di consapevolezza

ma è la superbia che mi tiene stretta

in una stolta morsa che mi danna.

Eccomi infatti qui dannata a chiedermi

che cosa fare per essere perfetta.

Tenersi all’apparenza, forse descrivere

soltanto cose in mutua tenerezza.


Patrizia Cavalli, 1947-2022

Vita meravigliosa

13.6.22

 

Cada obstáculo com que te deparas é uma advertência. Interpreta bem o aviso e o obstáculo tornar-se-á farol.


O Livro de Mirdad, Mikhail Naimy

é não saber absolutamente nada


Saber e não agir


31.5.22

Desafios da arte no início do novo milénio

 

"O Mal, todo o Mal, já foi tratado, falta agora tratar o bem, respondeu, lapidar."


O mal

é banal


O mistério

maior

é o mistério

do bem


Adília Lopes


roubado daqui

2.2.22

Corais - Anagramas

ouvir

Podcast Sinais, com Fernando Alves

2 de fevereiro de 2022



1.2.22

O tempo é


o recurso mais democrático que conheço - igual para todos, e o que faz a diferença é a forma como o utilizamos, como criamos prioridades, como o gerimos.


Armanda Martins, 2022

9.1.22

Relógio


O mais feroz dos animais domésticos

é o relógio de parede:

conheço um que já devorou

três gerações da minha família.


Mario Quintana


8.1.22

Nada, nada, nada, nada

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz


Tenho que encontrar a paz

Tenho que folgar os nós

Dos sapatos, da gravata

Dos desejos, dos receios


Tenho que esquecer a data

Tenho que perder a conta

Tenho que ter mãos vazias

Ter a alma e o corpo nus


Se eu quiser falar com Deus

Tenho que aceitar a dor

Tenho que comer o pão

Que o diabo amassou


Tenho que virar um cão

Tenho que lamber o chão

Dos palácios, dos castelos

Suntuosos do meu sonho


Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonho

E apesar de um mal tamanho

Alegrar meu coração


Se eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céus

Sem cordas pra segurar


Tenho que dizer adeus

Dar as costas, caminhar

Decidido, pela estrada

Que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Do que eu pensava encontrar


Gilberto Gil

5.1.22

Com Fúria E Raiva


Com fúria e raiva acuso o demagogo

E o seu capitalismo das palavras


Pois é preciso saber que a palavra é sagrada

Que de longe muito longe um povo a trouxe

E nela pôs sua alma confiada


De longe muito longe desde o início

O homem soube de si pela palavra

E nomeou a pedra a flor a água

E tudo emergiu porque ele disse


Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra

E da palavra faz poder e jogo

E transforma as palavras em moeda

Como se fez com o trigo e com a terra


Sophia, Junho de 1974


ouvindo Capicua, n'O Poema Ensina a Cair

22.12.21


what was it you saw in my face?

the light of your own face,

the fire of your own presence?


Eurydice, by H. D.

5.12.21

diferença e desigualdade

...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. 


Boaventura de Sousa Santos.

Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003: 56.

23.10.21


Tiziano Terzani, um conhecedor de mão cheia da Ásia Oriental, em Disse-me um Adivinho (Tinta-da-China, 2009): “Não é de admirar que a depressão seja hoje um mal tão comum. É quase reconfortante. É sinal que no íntimo das pessoas ainda resta o desejo de serem mais humanas”.

Roubado daqui

15.10.21

Ilya Beshevli's Wanderer


ouvir




Einstein defendia que “O acaso é a nossa ignorância”. Concordo. Não me parece importante dar um nome à força que mexe os cordelinhos. O importante é sentir. E saber observar. Se a maioria das pessoas não se interessa pelas aves que chegam e que partem, pelos seus diálogos e chamamentos, como podemos esperar que reparem em brisas e direções do vento? Mas concordam, sem avaliar, que “Nada se perde; tudo se transforma”. Precisamos da muleta “acreditar”? O hábito faz o monge. Mas o “hábito” vai para além da roupa, também é sinónimo de repetição das mesmas tarefas – e isso é que, mais do que tudo, faz o monge.


Roubado daqui (dos Comentários).

12.10.21

Avalokiteshvara

 


https://www.britannica.com/topic/Avalokiteshvara


25.9.21

 Medeia

(adaptado de Ovídio)


Três vezes roda, três vezes inunda

Na água da fonte os seus cabelos leves,

Três vezes grita, três vezes se curva

E diz: "Noite fiel aos meus segredos

Lua e astros que após o dia claro

Iluminais a sombra silenciosa

Tripla Hecate que sempre me socorres

Guiando atenta o fio dos meus gestos

deuses dos bosques, deuses infernais

Que em mim penetre a vossa força

Pois ajudada por vós posso fazer

Que os rios por entre as margens espantadas

Voltem correndo às suas fontes

Posso espalhar a calma sobre os mares

Ou enchê-los de espuma e fundas ondas

Posso chamar a mim os ventos

Posso largá-los cavalgando nos espaços

As palavras que digo e os gestos

Que em redor do seu som no ar disponho

Torcem longuínquas árvores e os homens

Despedaçam-se e morrem no seu eco

Posso encher de tormento os animais

Fazer que a terra cante, que as montanhas

Tremam e que floresçam os penedos."


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do mar, 1947.

16.8.21

9 amores



de Paulo de Carvalho, cantada por Katia Guerreiro

ouvir



9.8.21

Here is a story // to break your heart.

Are you willing?

This winter

the loons came to our harbor

and died, one by one,

of nothing we could see.

A friend told me

of one on the shore

that lifted its head and opened

the elegant beak and cried out

in the long, sweet savoring of its life

which, if you have heard it,

you know is a sacred thing.,

and for which, if you have not heard it,

you had better hurry to where

they still sing.

And, believe me, tell no one

just where that is.

The next morning

this loon, speckled

and iridescent and with a plan

to fly home

to some hidden lake,

was dead on the shore.

I tell you this

to break your heart,

by which I mean only

that it break open and never close again

to the rest of the world.


"Lead", de Mary Oliver, em New and Selected Poems, Volume Two


roubado daqui



8.8.21

Do reconforto

 

ouvir


Wim Mertens, "Geräusch", em Der Heisse Brei

Because





versão original: Beatles
esta versão: Rosemary Standley + pianist

7.8.21



Nobody can teach me who I am



Chinua Achebe

2.8.21

 


Pour pouvoir vivre une minute il faudra rendre celle d'avant


ouvir


Pas Eu Le Temps, Patrick Bruel

22.7.21


Entre a tragédia de existir e o abismo do desaparecimento


roubado daqui

 

29.6.21



[...] porque não há como viver com as consequências para perceber a razão de ser das coisas



Isabel Stilwell, roubado daqui.

24.6.21

A compreensão

 é, simultaneamente, meio e finalidade da comunicação humana.


Edgar Morin

13.4.21

uma aurora que não termina



O entusiasmo é 



Garcia Lorca

7.4.21



Work as if you lived in the early days of a better nation.



Alasdair Gray, roubado daqui.

30.3.21


O comércio é o grande civilizador. Trocamos ideias quando trocamos tecidos.


Robert Ingersoll

29.3.21


Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,

Sacode as aves que te levam o olhar,

Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.


Porque eu cheguei e é tempo de me veres,

Mesmo que os meus gestos te trespassem

De solidão e tu caias em poeira,

Mesmo que a minha voz queime o ar que tu respiras

E os teus olhos nunca mais possam olhar.


Sophia


Roubado daqui


20.3.21

When a system is unable to deal with its vital problems,

it degrades, disintegrates, or else it is capable of creating a process of metamorphosis. The probable is disintegration. The improbable but possible is metamorphosis.


Edgar Morin, roubado a António Nóvoa

18.3.21

I. Litany of Divine Absence


de Nicholas Lens & Nick Cave

ouvir esta e todas as outras!


Where are you?

Where are you?


Become yourself

Become yourself

So I can see you


Where are you?

Become yourself


Where are you?

Where are you?

Where are you?


Become yourself

So I can see you

So I can see you



13.3.21

saber o que é confiar?






Poderá quem não corre riscos,






3.3.21

Silver Lane

ouvir


'Cause you got me marching

You made me move

Shadow boxing, wanna love

The top of the proof


You got me talking

You know the truth

You're a speechless crazy pantomine

Priest without a tooth


You got me walking

You made me smooth

Like a satellite plastic ping-pong ball

Bouncing down at you


Sliver Lane

I'm back again


de Sophie Hunger

29.1.21

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!

 

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

 

Quem sobe nos ares não fica no chão ,

Quem fica no chão não sobe nos ares.

 

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

 

Ou guardo dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e não guardo o dinheiro.

 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...

e vivo escolhendo o dia inteiro!

 

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranqüilo.

 

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Cecília Meireles

roubado daqui

28.1.21

So I can feel the rain

ouvir Grave digger, de Dave Matthews

Cyrus Jones 1810 to 1913
Made his great grandchildren believe
You could live to a hundred and three
A hundred and three is forever when you're just a little kid
So Cyrus Jones lived forever
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain
Gravedigger
Muriel Stonewall
1903 to 1954
She lost both of her babies in the second great war
Now you should never have to watch
As your only children lowered in the ground
I mean you should never have to bury your own babies
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain
Gravedigger
Ring around the rosy
Pocket full of posy
Ashes to ashes
We all fall down
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain


2.1.21



deve existir uma outra

noite

onde caibamos todos

inocentemente felizes

a comer laranjas

e a discutir os problemas de aromas de flores.


Francisco Duarte Mangas

Pequeno Livro da Terra

Editorial Teorema, 1996


(Roubado à Virgínia Silva)



23.12.20

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Álvaro de Campos

2.12.20

Canção da estrada larga

1

A pé e alegre dirijo-me para a estrada larga,

Saudável, livre, o mundo à minha frente,

Diante de mim o longo e castanho caminho leva-me para onde eu quiser.


Daqui em diante nada peço à sorte, ei próprio sou a sorte,

Daqui em diante não mais me lamentarei, nada mais adiarei, de nada precisarei,

Deixo as queixas dentro de casa, as bibliotexas, as críticas impertinentes,

Forte e satisfeito viajo pela estrada larga.


A terra, e nada mais,

Não quero as constelações mais perto,

Sei que estão muito bem onde estão,

Sei que são suficientes àqueles que lhes pertencem.


Mesmo aqui carrego os meus velhos e deliciosos fardos,

Carrego-os, homens e mulheres, carrego-os comigo para onde quer que vá,

Juro que é impossível livrar-me deles,

Deles estou cheio e hei-de enchê-los por minha vez).


[...]


em Folhas de Erva, Walt Whitman

1.12.20

Um monge decide meditar sozinho.

Longe de seu mosteiro, ele toma um barco e vai até ao meio do lago, fecha os olhos e começa a meditar. 

Depois de algumas horas de silêncio imperturbável, 

ele de repente sente o golpe de outro barco batendo no dele. Com os olhos ainda fechados, ele sente a raiva crescer e, quando abre os olhos, está pronto para gritar com o barqueiro que ousou atrapalhar sua meditação. 

Mas quando ele abriu os olhos, 

viu que era um barco vazio, não amarrado, que flutuava no meio do lago...

Nesse momento, o monge alcança a auto-realização e entende que a raiva está dentro dele; 

ele simplesmente precisa da batida de um objeto externo para provocá-lo.

Depois disso, sempre que conhece alguém que irrita ou provoca sua raiva, ele se lembra; 

a outra pessoa não passa de um barco vazio. 

A raiva está dentro de mim.

Thich Nhat Hanh