9.1.22

Relógio


O mais feroz dos animais domésticos

é o relógio de parede:

conheço um que já devorou

três gerações da minha família.


Mario Quintana


8.1.22

Nada, nada, nada, nada

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz


Tenho que encontrar a paz

Tenho que folgar os nós

Dos sapatos, da gravata

Dos desejos, dos receios


Tenho que esquecer a data

Tenho que perder a conta

Tenho que ter mãos vazias

Ter a alma e o corpo nus


Se eu quiser falar com Deus

Tenho que aceitar a dor

Tenho que comer o pão

Que o diabo amassou


Tenho que virar um cão

Tenho que lamber o chão

Dos palácios, dos castelos

Suntuosos do meu sonho


Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonho

E apesar de um mal tamanho

Alegrar meu coração


Se eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céus

Sem cordas pra segurar


Tenho que dizer adeus

Dar as costas, caminhar

Decidido, pela estrada

Que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Do que eu pensava encontrar


Gilberto Gil

5.1.22

Com Fúria E Raiva


Com fúria e raiva acuso o demagogo

E o seu capitalismo das palavras


Pois é preciso saber que a palavra é sagrada

Que de longe muito longe um povo a trouxe

E nela pôs sua alma confiada


De longe muito longe desde o início

O homem soube de si pela palavra

E nomeou a pedra a flor a água

E tudo emergiu porque ele disse


Com fúria e raiva acuso o demagogo

Que se promove à sombra da palavra

E da palavra faz poder e jogo

E transforma as palavras em moeda

Como se fez com o trigo e com a terra


Sophia, Junho de 1974


ouvindo Capicua, n'O Poema Ensina a Cair

22.12.21


what was it you saw in my face?

the light of your own face,

the fire of your own presence?


Eurydice, by H. D.

5.12.21

diferença e desigualdade

...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. 


Boaventura de Sousa Santos.

Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Introdução: para ampliar o cânone do reconhecimento, da diferença e da igualdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003: 56.

23.10.21


Tiziano Terzani, um conhecedor de mão cheia da Ásia Oriental, em Disse-me um Adivinho (Tinta-da-China, 2009): “Não é de admirar que a depressão seja hoje um mal tão comum. É quase reconfortante. É sinal que no íntimo das pessoas ainda resta o desejo de serem mais humanas”.

Roubado daqui

15.10.21

Ilya Beshevli's Wanderer


ouvir




Einstein defendia que “O acaso é a nossa ignorância”. Concordo. Não me parece importante dar um nome à força que mexe os cordelinhos. O importante é sentir. E saber observar. Se a maioria das pessoas não se interessa pelas aves que chegam e que partem, pelos seus diálogos e chamamentos, como podemos esperar que reparem em brisas e direções do vento? Mas concordam, sem avaliar, que “Nada se perde; tudo se transforma”. Precisamos da muleta “acreditar”? O hábito faz o monge. Mas o “hábito” vai para além da roupa, também é sinónimo de repetição das mesmas tarefas – e isso é que, mais do que tudo, faz o monge.


Roubado daqui (dos Comentários).

12.10.21

Avalokiteshvara

 


https://www.britannica.com/topic/Avalokiteshvara


25.9.21

 Medeia

(adaptado de Ovídio)


Três vezes roda, três vezes inunda

Na água da fonte os seus cabelos leves,

Três vezes grita, três vezes se curva

E diz: "Noite fiel aos meus segredos

Lua e astros que após o dia claro

Iluminais a sombra silenciosa

Tripla Hecate que sempre me socorres

Guiando atenta o fio dos meus gestos

deuses dos bosques, deuses infernais

Que em mim penetre a vossa força

Pois ajudada por vós posso fazer

Que os rios por entre as margens espantadas

Voltem correndo às suas fontes

Posso espalhar a calma sobre os mares

Ou enchê-los de espuma e fundas ondas

Posso chamar a mim os ventos

Posso largá-los cavalgando nos espaços

As palavras que digo e os gestos

Que em redor do seu som no ar disponho

Torcem longuínquas árvores e os homens

Despedaçam-se e morrem no seu eco

Posso encher de tormento os animais

Fazer que a terra cante, que as montanhas

Tremam e que floresçam os penedos."


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dia do mar, 1947.

16.8.21

9 amores



de Paulo de Carvalho, cantada por Katia Guerreiro

ouvir



9.8.21

Here is a story // to break your heart.

Are you willing?

This winter

the loons came to our harbor

and died, one by one,

of nothing we could see.

A friend told me

of one on the shore

that lifted its head and opened

the elegant beak and cried out

in the long, sweet savoring of its life

which, if you have heard it,

you know is a sacred thing.,

and for which, if you have not heard it,

you had better hurry to where

they still sing.

And, believe me, tell no one

just where that is.

The next morning

this loon, speckled

and iridescent and with a plan

to fly home

to some hidden lake,

was dead on the shore.

I tell you this

to break your heart,

by which I mean only

that it break open and never close again

to the rest of the world.


"Lead", de Mary Oliver, em New and Selected Poems, Volume Two


roubado daqui



8.8.21

Do reconforto

 

ouvir


Wim Mertens, "Geräusch", em Der Heisse Brei

Because





versão original: Beatles
esta versão: Rosemary Standley + pianist

7.8.21



Nobody can teach me who I am



Chinua Achebe

2.8.21

 


Pour pouvoir vivre une minute il faudra rendre celle d'avant


ouvir


Pas Eu Le Temps, Patrick Bruel

22.7.21


Entre a tragédia de existir e o abismo do desaparecimento


roubado daqui

 

29.6.21



[...] porque não há como viver com as consequências para perceber a razão de ser das coisas



Isabel Stilwell, roubado daqui.

24.6.21

A compreensão

 é, simultaneamente, meio e finalidade da comunicação humana.


Edgar Morin

13.4.21

uma aurora que não termina



O entusiasmo é 



Garcia Lorca

7.4.21



Work as if you lived in the early days of a better nation.



Alasdair Gray, roubado daqui.

30.3.21


O comércio é o grande civilizador. Trocamos ideias quando trocamos tecidos.


Robert Ingersoll

29.3.21


Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,

Sacode as aves que te levam o olhar,

Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.


Porque eu cheguei e é tempo de me veres,

Mesmo que os meus gestos te trespassem

De solidão e tu caias em poeira,

Mesmo que a minha voz queime o ar que tu respiras

E os teus olhos nunca mais possam olhar.


Sophia


Roubado daqui


20.3.21

When a system is unable to deal with its vital problems,

it degrades, disintegrates, or else it is capable of creating a process of metamorphosis. The probable is disintegration. The improbable but possible is metamorphosis.


Edgar Morin, roubado a António Nóvoa

18.3.21

I. Litany of Divine Absence


de Nicholas Lens & Nick Cave

ouvir esta e todas as outras!


Where are you?

Where are you?


Become yourself

Become yourself

So I can see you


Where are you?

Become yourself


Where are you?

Where are you?

Where are you?


Become yourself

So I can see you

So I can see you



13.3.21

saber o que é confiar?






Poderá quem não corre riscos,






3.3.21

Silver Lane

ouvir


'Cause you got me marching

You made me move

Shadow boxing, wanna love

The top of the proof


You got me talking

You know the truth

You're a speechless crazy pantomine

Priest without a tooth


You got me walking

You made me smooth

Like a satellite plastic ping-pong ball

Bouncing down at you


Sliver Lane

I'm back again


de Sophie Hunger

29.1.21

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!

 

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

 

Quem sobe nos ares não fica no chão ,

Quem fica no chão não sobe nos ares.

 

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

 

Ou guardo dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e não guardo o dinheiro.

 

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...

e vivo escolhendo o dia inteiro!

 

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranqüilo.

 

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Cecília Meireles

roubado daqui

28.1.21

So I can feel the rain

ouvir Grave digger, de Dave Matthews

Cyrus Jones 1810 to 1913
Made his great grandchildren believe
You could live to a hundred and three
A hundred and three is forever when you're just a little kid
So Cyrus Jones lived forever
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain
Gravedigger
Muriel Stonewall
1903 to 1954
She lost both of her babies in the second great war
Now you should never have to watch
As your only children lowered in the ground
I mean you should never have to bury your own babies
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain
Gravedigger
Ring around the rosy
Pocket full of posy
Ashes to ashes
We all fall down
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain


2.1.21



deve existir uma outra

noite

onde caibamos todos

inocentemente felizes

a comer laranjas

e a discutir os problemas de aromas de flores.


Francisco Duarte Mangas

Pequeno Livro da Terra

Editorial Teorema, 1996


(Roubado à Virgínia Silva)



23.12.20

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

Álvaro de Campos

2.12.20

Canção da estrada larga

1

A pé e alegre dirijo-me para a estrada larga,

Saudável, livre, o mundo à minha frente,

Diante de mim o longo e castanho caminho leva-me para onde eu quiser.


Daqui em diante nada peço à sorte, ei próprio sou a sorte,

Daqui em diante não mais me lamentarei, nada mais adiarei, de nada precisarei,

Deixo as queixas dentro de casa, as bibliotexas, as críticas impertinentes,

Forte e satisfeito viajo pela estrada larga.


A terra, e nada mais,

Não quero as constelações mais perto,

Sei que estão muito bem onde estão,

Sei que são suficientes àqueles que lhes pertencem.


Mesmo aqui carrego os meus velhos e deliciosos fardos,

Carrego-os, homens e mulheres, carrego-os comigo para onde quer que vá,

Juro que é impossível livrar-me deles,

Deles estou cheio e hei-de enchê-los por minha vez).


[...]


em Folhas de Erva, Walt Whitman

1.12.20

Um monge decide meditar sozinho.

Longe de seu mosteiro, ele toma um barco e vai até ao meio do lago, fecha os olhos e começa a meditar. 

Depois de algumas horas de silêncio imperturbável, 

ele de repente sente o golpe de outro barco batendo no dele. Com os olhos ainda fechados, ele sente a raiva crescer e, quando abre os olhos, está pronto para gritar com o barqueiro que ousou atrapalhar sua meditação. 

Mas quando ele abriu os olhos, 

viu que era um barco vazio, não amarrado, que flutuava no meio do lago...

Nesse momento, o monge alcança a auto-realização e entende que a raiva está dentro dele; 

ele simplesmente precisa da batida de um objeto externo para provocá-lo.

Depois disso, sempre que conhece alguém que irrita ou provoca sua raiva, ele se lembra; 

a outra pessoa não passa de um barco vazio. 

A raiva está dentro de mim.

Thich Nhat Hanh

12.11.20



ZIMA, ADARIO
Forêts paisibles,
Jamais un vain désir ne trouble ici nos coeurs.
S'ils sont sensibles,
Fortune, ce n'est pas au prix de tes faveurs.

CHOEUR DES SAUVAGES
Forêts paisibles,
Jamais un vain désir ne trouble ici nos coeurs.
S'ils sont sensibles,
Fortune, ce n'est pas au prix de tes faveurs.

ZIMA, ADARIO
Dans nos retraites,
Grandeur, ne viens jamais
Offrir tes faux attraits!
Ciel, tu les as faites
Pour l'innocence et pour la paix.
Jouissons dans nos asiles,
Jouissons des biens tranquilles!
Ah! peut-on être heureux,
Quand on forme d'autres voeux?

Jean-Philippe Rameau
Les Indes galantes
Opéra-Ballet en un prologue et quatre actes

2.11.20

... fazer uso da imaginação e pô-la ao serviço do sonho, não para fantasiar ilusões, mas para tornar possível o que o real não oferece e através da imaginação pode ser criado.

Maria Etelvina Santos, prefaciando Fantasmagorias.

28.10.20

Beware, O wanderer, the road is walking too,

said Rilke one day to no one in particular

as good poets everywhere address the six directions.

If you can’t bow, you’re dead meat. You’ll break

like uncooked spaghetti. Listen to the gods.

They’re shouting in your ear every second.

Jim Harrison, After Ikkyu and Other Poems

26.10.20

Mito?


Deixo Sísifo na base da montanha! As pessoas sempre reencontram seu fardo. Mas Sísifo ensina a felicidade superior que nega os deuses e ergue as rochas. Também ele acha que está tudo bem. Este universo, doravante sem dono, não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada fragmento mineral dessa montanha cheia de noite forma por si só um mundo. A própria luta para chegar ao cume basta para encher o coração de um homem. É preciso imaginar Sísifo feliz.

– Camus, O Mito de Sísifo

25.10.20

Non modelé dans sa forme accomplie.

Un poème sommeille en moi

Qui exprimera mon âme entière.

Je le sens aussi vague que le son et le vent

Non modelé dans sa forme accomplie.


Il n’a ni stance, ni vers, ni mot.

Il n’est même pas tel que je le rêve.

Rien qu’un sentiment confus de lui,

Rien qu’une brume heureuse entourant la pensée.


Jour et nuit dans mon mystère intime

Je le rêve, je le lis, je l’épelle,

Et sa vague perfection toujours

Gravite en moi à la frange des mots.


Jamais, je le sais, il ne sera écrit.

Je sais et j’ignore à la fois ce qu’il est.

Mais je jouis de le rêver,

Car le bonheur, même faux, reste le bonheur.


*


The poem


There sleeps a poem in my mind

That shall my entire soul express.

I feel it vague as sound and wind

Yet sculptured in full definiteness.


It has no stanza, verse or word.

Ev’n as l dream it, it is not.

‘Tis a mere feeling of it, blurred,

And but a happy mist round thought.


Day and night in my mystery

I dream and read and spell it over,

And ever round words’ brink in me

Its vague completeness seems to hover.


I know it never shall be writ.

I know I know not what it is.

But I am happy dreaming it,

And false bliss, although false, is bliss.


***

Fernando Pessoa (1888—1935) – Poèmes anglais (Points Poésie, 2011) – Traduit de l’anglais par Georges Thinès

Roubado daqui

Se quiseres conhecer uma pessoa,

escuta-lhe os sonhos.


Mia Couto

20.10.20


Para mudares de vida precisas de deixar que a vida te mude.


Marta Monchacha

19.10.20

Canto ostinato

 ouvir

for all instruments and all performers

by Simeon ten Holt

16.10.20

8.10.20

An Adventure

1.
It came to me one night as I was falling asleep
that I had finished with those amorous adventures
to which I had long been a slave. Finished with love?
my heart murmured. To which I responded that many profound
     discoveries
awaited us, hoping, at the same time, I would not be asked
to name them. For I could not name them. But the belief that they
     existed–
surely this counted for something?

2.
The next night brought the same thought,
this time concerning poetry, and in the nights that followed
various other passions and sensations were, in the same way,
set aside forever, and each night my heart
protested its future, like a small child being deprived of a favorite toy.
But these farewells, I said, are the way of things.
And once more I alluded to the vast territory
opening to us with each valediction. And with that phrase I became
a glorious knight riding into the setting sun, and my heart
became the steed underneath me.

3.
I was, you will understand, entering the kingdom of death,
though why this landscape was so conventional
I could not say. Here, too, the days were very long
while the years were very short. The sun sank over the far mountain.
The stars shone, the moon waxed and waned. Soon
faces from the past appeared to me:
my mother and father, my infant sister; they had not, it seemed,
finished what they had to say, though now
I could hear them because my heart was still.

4.
At this point, I attained the precipice
but the trail did not, I saw, descend on the other side;
rather, having flattened out, it continued at this altitude
as far as the eye could see, though gradually
the mountain that supported it completely dissolved
so that I found myself riding steadily through the air–
All around, the dead were cheering me on, the joy of finding them
obliterated by the task of responding to them–

5.
As we had all been flesh together,
now we were mist.
As we had been before objects with shadows,
now we were substance without form, like evaporated chemicals.
Neigh, neigh, said my heart,
or perhaps nay, nay–it was hard to know.

6.
Here the vision ended. I was in my bed, the morning sun
contentedly rising, the feather comforter
mounded in white drifts over my lower body.
You had been with me–
there was a dent in the second pillowcase.
We had escaped from death–
or was this the view from the precipice?

–Louise Glück, Faithful and Virtuous Night, 2014

1.10.20

Ela vive unicamente assegurada por uma desmesurada confiança. Nesse sentido, a fé tem a forma de uma hipótese. A fé é expectativa. Caminhamos às apalpadelas, como se víssemos o invisível, segundo a bela formulação da Carta aos Hebreus (Heb 11,7).

José Tolentino Mendonça, A Mística do Instante. O tempo e a promessa.